Se queremos conhecer as causas que levam um indivíduo a aceitar ou rejeitar determinadas coisas, devemos inicialmente conhecer o ambiente onde os futuros homens e mulheres são treinados para enfrentarem os desafios da vida.
A maneira de educar, na maioria das vezes muito pouco contestada ou questionada, quando da autoridade dos pais estejam eles certos ou errados, mas em nome do que é bom, mal ou baseados em tradições, que para as crianças não tem o menor significado, a induzem desde cedo, aceitar a submissão imposta principalmente aparadas por vantagens ou castigos fartamente distribuídos pelos pais, sejam em bens materiais ou em quantidade de amor. Isto direciona um futuro indivíduo, desde a mais tenra idade, consolidar sólidos conceitos sobre o que dele se espera e sobre o qual será seu comportamento e interesse.
Os conflitos sempre existirão, mas o risco da doutrinação familiar que a todo instante diz que papai e mamãe gostam de "Joãozinho" ou "Mariazinha" quando são obedientes, indica que estas crianças futuramente vão receber o mesmo tipo de sugestão por parte de professores, chefes, autoridades, empregadores, etc., tão habilmente dissimulados de papais e mamães, e daí em diante os resultados todos conhecemos. E a criança submissa transforma-se em um jovem submisso que não sabe enfrentar seus conflitos, suas angustias, seus temores, levando estes a confundirem liberdade com a busca da verdade. Imaginam que a liberdade sexual e outras tantas mais levam-no a encontrar um mundo melhor, menos neurótico e cometem assim um grande equívoco, pois ao contrário do que pensam acabam num sentido contrário e alucinante em relação à esta busca.
Nestes contemporâneos tempos, ainda mais os vividos em nosso país e no mundo, a fé dos jovens na busca da verdade da vida tem sido perdida, os levando a procurar minimizar este sofrimento numa gama de valores falsos, que proporcionam alívio curto e temporário. As novas tecnologias, drogas, álcool, sexo, manipulação pelos veículos de comunicação em massa, estão tornando os jovens alienados, embotados em sua capacidade de pensar, sentir, ouvir, perceber coisas, etc. Ao invés de enfrentarem seus problemas pessoais e os de seus grupos, fogem para baladas intermináveis, de si mesmos e de seus problemas indo se amontoar e massificar, esquecendo que no dia seguinte tudo será igual.
Com certeza alguém está levando a melhor nesta situação, podando os futuros cidadãos, tentando controlar o povo dominando-lhe o pensamento, construindo valores falsos, acabando com a educação, com a formação de uma personalidade integrada e com a condição de rebelar-se e pensar. Parece ser uma ótima hora para o jovem parar de ser alienado, de seguir a corrente dos submissos e lutar pelos seus direitos de pessoa como indivíduo que compõe uma sociedade, e assim criar um mundo melhor tanto para si como um futuro melhor para as novas gerações.
Calar-se é o mesmo que consentir e negar a existência do que ameaça, não faz esta desaparecer ou diminuir, pelo contrário, leva cada vez mais o indivíduo e a sociedade a ser tornarem autênticos robôs. Negar o sofrimento é um sofrimento em si e esta negativa é ainda mais destrutiva, trazendo sentimento de incapacidade, nos distanciando da esperança por uma transformação que nos afaste de um caos social para onde caminhamos.
A liberdade de sonhar acordado, sob a influência lícita, ilícita e dos veículos de comunicação de massa ajuda a reconciliar os vassalos com a servidão que é o seu destino, tornando assim os jovens mais dóceis e controláveis tal como acontecia com os escravos que desempenhavam suas funções impostas sem se destruírem ou a seus escravizadores, porque estes projetavam neles sua agressividade e eles se identificavam com ela, fazendo assim com que não se revoltassem até que surgiram os abolicionistas que lhe projetaram uma imagem diferente, sua própria agressividade, não mais a projetada pelos escravizadores. A partir deste momento os negros foram capazes de se rebelar e lutar contra a escravatura.
A revolta existia mas foi preciso que surgissem líderes que viessem em seu auxílio, que lhes mostrassem que existia uma outra opção, que eles tinham condições e dever de lutar pelos seus ideais e direitos. E neste momento nos defrontamos com a figura muito falada, muito estudada, mas na realidade muito pouco conhecida: o "líder". Que figuras misteriosas seriam esses indivíduos? Quem são eles? Onde estão? Que atributos possuem? O que faz com que as pessoas os escutem e os sigam?
Inúmeros sociólogos, pensadores, psicólogos, etc. procuram essas respostas. Ora acham que os líderes nascem com misteriosos atributos: "fator X", personalidade "alfa"; ora falam em magnetismo, carisma; ora de atributos físicos, voz eloquente, capacidade de discernimento, realismo, etc., aumentando ainda mais a confusão reinante. Sabemos muitas vezes quem são ou quem foram, pois a História está cheia de relatos da maneira como agem ou agiram. Sabemos que o líder tem que ser correto, convincente, lutar pelos objetivos e problemas do grupo, ser íntegro, ter cuidado para não esquecer seus objetivos caindo em extremos e levando o grupo a destruição. Coincidência com estes últimos anos por aqui, não?!
Afirmam alguns autores que basta surgir uma grande crise para que os líderes apareçam. Também argumentam que a liderança é situacional, mas neste momento estamos em crise, será que não nos apercebemos disso? Que estamos esperando? Que os líderes surjam, esquecendo que também nós podemos sê-lo? Acaso não estamos sendo enganados, manipulados, usados a bel prazer, no afâ do "deixa fazer"? Não será também que os líderes estão o tempo todo por aí, gritando e nos mostrando que alguma coisa não está certa? Será que perdemos a capacidade de discernir? De realmente querer ouvir e analisar o que estão nos dizendo através de livros, teatro, e exemplos? Ou vamos preferir continuar a ler historietas vazias, "músicas" de baixa qualidade, slogans e jingles manipulativos?
Esta é a hora para usarmos nossa maravilhosa inteligência, a única coisa que nos torna diferentes dos animais irracionais. Paremos de nos tornar "abovinados", questionemo-nos, vamos procurar a verdade, a justiça, o ideal mais sublime de qualquer habitante deste planeta, o ideal de sermos verdadeiros homens e mulheres, insatisfeitos por natureza, mas que não se cansam de procurar, de lutar, de não aceitar o que não serve, de repudiar o errado, de sair dos grilhões que nos impuseram e aceitar o desafio que a humanidade nos destinou. Todas as gerações enfrentaram crises e as resolveram sob pena de serem destruídas; deixemos de ser platéia e de querer como os antigos romanos somente "pão e circo" e sermos simples peças substituíveis de uma máquina não humana.
O temor ao desconhecido sempre conteve o homem na sua marcha de anseio para a realização de novas esperanças. No momento em que suprimirmos do ser humano os conflitos estaremos irremediavelmente condenando-o a ser máquina, que nada sente, que não precisa pensar, decidir, escolher, e então tudo estará pronto. Não seremos mais necessários, ninguém precisará de nós, nem nós mesmos. O momento para agir é agora...amanhã, talvez seja tarde demais. O vazio existencial já está se alojando. Que o futuro não reserve aos indivíduos dos próximos séculos somente vivermos por viver, culpados e condenados pela nossa omissão.
Alexandre de Abreu Valle - Psicologia Clínica
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