quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Revoltarmos, por que?

Se queremos conhecer as causas que levam um indivíduo a aceitar ou rejeitar determinadas coisas, devemos inicialmente conhecer o ambiente onde os futuros homens e mulheres são treinados para enfrentarem os desafios da vida.

A maneira de educar, na maioria das vezes muito pouco contestada ou questionada, quando da autoridade dos pais estejam eles certos ou errados,  mas em nome do que é bom, mal ou baseados em tradições, que para as crianças não tem o menor significado, a induzem desde cedo, aceitar a submissão imposta principalmente aparadas por vantagens ou castigos fartamente distribuídos pelos pais, sejam em bens materiais ou em quantidade de amor. Isto direciona um futuro indivíduo, desde a mais tenra idade, consolidar sólidos conceitos sobre o que dele se espera e sobre o qual será seu comportamento e interesse.

Os conflitos sempre existirão, mas o risco da doutrinação familiar que a todo instante diz que papai e mamãe gostam de "Joãozinho" ou "Mariazinha" quando são obedientes, indica que estas crianças futuramente vão receber o mesmo tipo de sugestão por parte de professores, chefes, autoridades, empregadores, etc., tão habilmente dissimulados de papais e mamães, e daí em diante os resultados todos conhecemos. E a criança submissa transforma-se em um jovem submisso que não sabe enfrentar seus conflitos, suas angustias, seus temores, levando estes a confundirem liberdade com a busca da verdade. Imaginam que a liberdade sexual e outras tantas mais levam-no a encontrar um mundo melhor, menos neurótico e cometem assim um grande equívoco, pois ao contrário do que pensam acabam num sentido contrário e alucinante em relação à esta busca.

Nestes contemporâneos tempos, ainda mais os vividos em nosso país e no mundo, a fé dos jovens na busca da verdade da vida tem sido perdida, os levando a procurar minimizar este sofrimento numa gama de valores falsos, que proporcionam alívio curto e temporário. As novas tecnologias, drogas, álcool, sexo, manipulação pelos veículos de comunicação em massa, estão tornando os jovens alienados, embotados em sua capacidade de pensar, sentir, ouvir, perceber coisas, etc. Ao invés de enfrentarem seus problemas pessoais e os de seus grupos, fogem para baladas intermináveis, de si mesmos e de seus problemas indo se amontoar e massificar, esquecendo que no dia seguinte tudo será igual.

Com certeza alguém está levando a melhor nesta situação, podando os futuros cidadãos, tentando controlar o povo dominando-lhe o pensamento, construindo valores falsos, acabando com a educação, com a formação de uma personalidade integrada e com a condição de rebelar-se e pensar. Parece ser uma ótima hora para o jovem parar de ser alienado, de seguir a corrente dos submissos e lutar pelos seus direitos de pessoa como indivíduo que compõe uma sociedade, e assim criar um mundo melhor tanto para si como um futuro melhor para as novas gerações.

Calar-se é o mesmo que consentir e negar a existência do que ameaça, não faz esta desaparecer ou diminuir, pelo contrário, leva cada vez mais o indivíduo e a sociedade a ser tornarem autênticos robôs. Negar o sofrimento é um sofrimento em si e esta negativa é ainda mais destrutiva, trazendo sentimento de incapacidade, nos distanciando da esperança por uma transformação que nos afaste de um caos social para onde caminhamos.

A liberdade de sonhar acordado, sob a influência lícita, ilícita e dos veículos de comunicação de massa ajuda a reconciliar os vassalos com a servidão que é o seu destino, tornando assim os jovens mais dóceis e controláveis tal como acontecia com os escravos que desempenhavam suas funções impostas sem se destruírem ou a seus escravizadores, porque estes projetavam neles sua agressividade e eles se identificavam com ela, fazendo assim com que não se revoltassem até que surgiram os abolicionistas que lhe projetaram uma imagem diferente, sua própria agressividade, não mais a projetada pelos escravizadores. A partir deste momento os negros foram capazes de se rebelar e lutar contra a escravatura.

A revolta existia mas foi preciso que surgissem líderes que viessem em seu auxílio, que lhes mostrassem que existia uma outra opção, que eles tinham condições e dever de lutar pelos seus ideais e direitos. E neste momento nos defrontamos com a figura muito falada, muito estudada, mas na realidade muito pouco conhecida: o "líder". Que figuras misteriosas seriam esses indivíduos? Quem são eles? Onde estão? Que atributos possuem? O que faz com que as pessoas os escutem e os sigam?

Inúmeros sociólogos, pensadores, psicólogos, etc. procuram essas respostas. Ora acham que os líderes nascem com misteriosos atributos: "fator X", personalidade "alfa"; ora falam em magnetismo, carisma; ora de atributos físicos, voz eloquente, capacidade de discernimento, realismo, etc., aumentando ainda mais a confusão reinante. Sabemos muitas vezes quem são ou quem foram, pois a História está cheia de relatos da maneira como agem ou agiram. Sabemos que o líder tem que ser correto, convincente, lutar pelos objetivos e problemas do grupo, ser íntegro, ter cuidado para não esquecer seus objetivos caindo em extremos e levando o grupo a destruição. Coincidência com estes últimos anos por aqui, não?!

Afirmam alguns autores que basta surgir uma grande crise para que os líderes apareçam. Também argumentam que a liderança é situacional, mas neste momento estamos em crise, será que não nos apercebemos disso? Que estamos esperando? Que os líderes surjam, esquecendo que também nós podemos sê-lo? Acaso não estamos sendo enganados, manipulados, usados a bel prazer, no afâ do "deixa fazer"? Não será também que os líderes estão o tempo todo por aí, gritando e nos mostrando que alguma coisa não está certa? Será que perdemos a capacidade de discernir? De realmente querer ouvir e analisar o que estão nos dizendo através de livros, teatro, e exemplos? Ou vamos preferir continuar a ler historietas vazias, "músicas" de baixa qualidade, slogans e jingles manipulativos? 

Esta é a hora para usarmos nossa maravilhosa inteligência, a única coisa que nos torna diferentes dos animais irracionais. Paremos de nos tornar "abovinados", questionemo-nos, vamos procurar a verdade, a justiça, o ideal mais sublime de qualquer habitante deste planeta, o ideal de sermos verdadeiros homens e mulheres, insatisfeitos por natureza, mas que não se cansam de procurar, de lutar, de não aceitar o que não serve, de repudiar o errado, de sair dos grilhões que nos impuseram e aceitar o desafio que a humanidade nos destinou. Todas as gerações enfrentaram crises e as resolveram sob pena de serem destruídas; deixemos de ser platéia e de querer como os antigos romanos somente "pão e circo" e sermos simples peças substituíveis de uma máquina não humana.

O temor ao desconhecido sempre conteve o homem na sua marcha de anseio para a realização de novas esperanças. No momento em que suprimirmos do ser humano os conflitos estaremos irremediavelmente condenando-o a ser máquina, que nada sente, que não precisa pensar, decidir, escolher, e então tudo estará pronto. Não seremos mais necessários, ninguém precisará de nós, nem nós mesmos. O momento para agir é agora...amanhã, talvez seja tarde demais. O vazio existencial já está se alojando. Que o futuro não reserve aos indivíduos dos próximos séculos somente vivermos por viver, culpados e condenados pela nossa omissão.

Alexandre de Abreu Valle - Psicologia Clínica
Consultórios: Cruzeiro - Cidade Nova
Consultas agendadas pelo telefone: (31) 984093040







quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Massificação Cultural

 A cultura no Brasil sempre foi acessível principalmente a uma minoria privilegiada. Isto remonta aos tempos do Brasil Imperial, em que a cultura estava restrita a filhos da burguesia que detinha o poder econômico, e que, portanto, eram os únicos a terem condições de frequentar os famosos colégios europeus.

Voltavam ao Brasil após terem finalizado seus estudos, e passavam a perceber as diferenças de realidades dos dois mundos. Aqui o que vigorava na época era o trabalho braçal, e não havia lugar para a cultura, o que acarretava uma má compreensão do idioma.

Os jesuítas foram os primeiros a revelar preocupação em instruir o povo. Para tanto, promoveram a fundação de vários colégios. Temos hoje no Brasil um grande número de instituições públicas que levam a cultura às grandes massas. Porém seu número, principalmente das universidades, é insuficiente para atender uma demanda cada vez maior, e mesmo aqueles que nela conseguem entrar ou nela permanecer, continuam sendo em sua grande maioria privilegiados de uma classe social de maior poder aquisitivo. A grande maioria não consegue um nível sequer de subsistência quanto mais de estudo.

Não é somente a cultura adquirida através de escolarização, apesar do enfoque, que é de difícil acesso. A simples cultura diversificada, adquirida por meio de várias fontes, é também confinada às classes de poder aquisitivo maior. O que resta à grande massa é uma massificação cultural, sem preocupações com ordem de valores, sentido crítico e julgamento. A cultura lhes chega através de medíocres programas de televisão e de baixas literaturas. Não é uma verdadeira cultura o que as atinge, mas sim o sopro cada vez mais forte de uma marginalização cultural.

Não podemos, contudo, nos esquecer que a população brasileira é formada por diversificado número de povos e que isto contribui grandemente para a corrupção do idioma português. Não é de admirar que a redação, como parte obrigatória em importantes exames no país, exerça grande repercussão psicológica nos estudantes. A primeira reação é a de verdadeiro pânico e podemos, se fizermos uma análise mais minuciosa, dizer que com justa causa.

Justa, porque o estudante faz todo o curso básico e secundário detido em esquemas decorativos. Em praticamente nenhum momento durante estes anos todos sente a necessidade de procurar uma maior culturalização, pois não há incentivos para tal. O que é exigido por parte dos professores é a leitura repetitiva de uma "cartilha". O estudante, não parte para um aprofundamento dos conhecimentos básicos adquiridos na escola. Atem-se, simplesmente, ao que lhe é lançado de forma já deglutida pelos professores. Salvo alguns poucos casos, em momento algum sente necessidade de ele próprio analisar e tentar compreender o que lê, e por que o faria? Tudo o que precisa saber para executar uma boa prova chega-lhe aos ouvidos analisado e interpretado.

Ao concluir o segundo grau, ingressa em cursos preparatórios, onde o ciclo se repete de forma mais acentuada. O processo de decoração acentua-se de maneira catastrófica. O estudante converte-se em uma máquina de marcar X. Em raros momentos utiliza-se da palavra oral ou escrita. Não há tempo para leitura de espécie alguma, leituras estas que poderiam desenvolver-lhe o intelecto. O tempo tem que ser "aproveitado" para memorização das fórmulas e tantas outras regras, etc.

Este círculo fechado de ensino empurra-o para a margem dos fatores sociais e culturais, e esta marginalização cultural leva-o a buscar novas formas de expressão que denotam falta de conhecimento. Passa então ao uso abusivo de gírias, e outros símbolos como meio de comunicação. Com a tecnologia atual dos computadores e dos novos smartphones e suas possibilidades de comunicação via redes sociais, temos percebido novos símbolos gráficos em substituição ao idioma falado. Estes maneirismos de comunicação indicam muito mais do que simples processo de não culturalização, revelam um estágio interior de insatisfações, de insegurança e ansiedade. E, a forma encontrada de manifestá-los é através da criação imaginativa e fantasiosa de novos simbolos comunicativos que tendem a atingir a massa.

Ao sair deste circulo vicioso, com a entrada nos cursos superiores, o estudante depara-se com uma nova realidade marcada pela defasagem entre os cursos secundários e o ensino superior. Esta busca de conhecimentos torna-se uma necessidade cada vez mais crescente. O estudante depara-se então, com a difícil tarefa de passar a interpretar o que lê. Não há mais quem o faça por ele.

As provas não mais medem a capacidade de memorização, mas sim conhecimentos profundos e abrangentes que avaliam sua capacidade crítica e discriminativa. No momento em que há exigência de por no papel seus conhecimentos, mesmo que estes existam em grande quantidade e lhes venham facilmente à mente, há dificuldade de expressa-los de forma lógica, inteligível e coerente.
 
Nesta fase do avanço intelectual o estudante percebe que é apenas uma peça da integração social e nota que sua força é imprescindível a tal processo, para talvez, enriquecer outros.
 
Alexandre de Abreu Valle - Psicologia Clínica
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terça-feira, 24 de novembro de 2015

Climatério - Menopausa e Andropausa

Ainda hoje, mesmo com todo avanço alcançado pela ciência médica e psicológica, o climatério tem sido olhado pelas pessoas que se aproximam deste período de vida como algo a se temer ou se ter desconfiança. Talvez, por ele ser considerado por muitos como o princípio do fim da vida, isto é, por ele se apresentar já no fim da idade adulta e começo da senil.

O climatério, seria o estágio de vida onde a reprodução cessa na mulher e que no homem, a chegada do envelhecimento físico pode vir junto com a falta desejo sexual, esta última muito ligada ao fator psicológico e, em alguns casos, à diminuição da produção de testosterona, o hormônio sexual masculino, fase chamada de Andropausa. O termo não é clinicamente adequado, mas como já adquiriu status de verdade pode ser usado sem maiores prejuízos. 

Em ambos os casos a queda de apetite sexual costuma estar presente, embora na mulher ela se de através do receio, da insegurança, de uma supersticiosa idéia de que com o fim do ciclo menstrual ela deixará de ser mulher. Talvez aí esteja o porque de muitas mulheres se sentirem frigidas, se imaginarem menos amadas. Na verdade o problema é mais psíquico, já que a mulher historicamente foi educada e criada para a maternidade, apesar destes conceitos estarem mudando em nosso mundo contemporâneo, onde a mulher inserida no mercado de trabalho e na busca pela igualdade de condições em relação ao homem tem deixado a maternidade em muitos casos em segundo plano ou até mesmo optando por não ser mãe.

O instinto reprodutor é muito mais acentuado na mulher que no homem e isto é visível desde a primeira infância, quando a menina é induzida a brincar de mãe, aprende a alimentar sua boneca e cuidar da casinha desta. Neste mesmo espaço de tempo o menino é levado a brincar de guerra, a se aventurar na rua em caçadas imaginárias (hoje cada vez mais raras por conta da violência das ruas) onde um pequeno inseto pode ser um leão ou mesmo um crocodilo, e as brincadeiras são muito mais voltadas para a competição. Com o desenvolvimento tecnológico, com games disponíveis a todos os gêneros, meninas tem sido introduzidas neste universo antes voltado apenas para os meninos, o que inclusive reforça o que foi dito anteriormente a respeito de mulheres estarem cada vez mais voltadas para o mundo competitivo antes dominado pelos homens.

O certo é que toda uma estrutura de vida é quebrada com a vinda da menopausa  e da andropausa. A menopausa, seja natural ou induzida, cria ou força um desencadeamento de reações, na grande maioria, negativas. Geralmente entre os 45, 50 anos a mulher entra em menopausa, excepcionalmente, pode ocorrer antes dos 40 e após os 50 anos. A menopausa ocorre quando o aparelho reprodutor feminino para com sua função, isto é, a ovulação termina e com isto o ciclo menstrual começa a ter um espaço maior até a sua total extinção. Em alguns casos mesmo após as chamadas regras terem acabado ainda existe a ovulação, comumente por um período não superior a um ano.

A menopausa artificial não tem idade definida e é provocada por alguma forma de cirurgia, sofrida pela mulher nos órgãos reprodutores, impedindo a ovulação ou criando a impossibilidade de reprodução. Costuma ser um dos fatores que cria na mulher a frigidez sexual e o desinteresse pelo sexo.

É também na menopausa que o corpo da mulher passa por outras modificações. As modificações sofridas na puberdade, apresentam o aparecimento dos seios além das primeiras menstruações, desta forma completando o aparelho reprodutor até então em formação. A menina se torna mulher, as formas se delineiam, o busto toma a forma definitiva. Já na menopausa a mulher apresenta manifestações somáticas, a pele se enruga, os cabelos perdem a pigmentação, os seios começam a murchar, a mulher se desinteressa pelo corpo e geralmente ganha peso e perde a forma. Ela já não procura ser atraente, isto em grande parte dos casos, pois existem mulheres que são tomadas por um novo vigor sexual e iniciam uma busca pela juventude, infelizmente muitas vezes também ultrapassando o limite saudável, se tornando obsessivas em relação a sentirem-se belas e atraentes, não conseguindo perceber que o efeito desta busca traz resultados contrários à intenção inicial. O ideal seria que a mulher se encontrasse preparada para enfrentar a menopausa como mais um dos ciclos da vida.

Talvez, se este ciclo de vida fosse encarado com melhor naturalidade, muitas complicações emocionais poderiam ser minimizadas, principalmente nas relações entre casais de sexos diferentes, já que nos de mesmo sexo a compreensão pode ser melhor resolvida pelo simples fato de ambos provavelmente passarem por situações semelhantes. Porém a mulher se sentindo menos amada, por se amar menos, pode fazer da vida a dois algo desinteressante e isto também pode ocorrer com o homem, já que os mais emotivos, menos autoconfiantes e seguros de si estão mais predispostos aos efeitos da apatia.

Algumas vezes e isto não é raro, é despertado na mulher assim como no homem, um desejo mais latente pelo mesmo sexo. Alguns explicam tal interesse por uma crença que a menopausa e a andropausa implicaria no fim do sexo, promovendo assim uma busca por novas motivações e conservando deste modo a sensação de amar e ser amada ou amado.

Problemas maiores podem ser percebidos em indivíduos emocionalmente instáveis. Mesmo a mulher que fez tratamento hormonal, pode ser levada a crises de depressão e de auto-destruição, com a aproximação da menopausa, ou pode como já citado, se tornar vítima de uma busca sem fim por uma juventude impossível de se atingir. O mesmo acontece com o homem. Não devemos nos esquecer que vivemos numa sociedade em que se cultua a juventude e  por isto marginaliza o velho.

Na mulher os sintomas costumam ser mais visíveis e se somatizam. Primeiro em relação à regularidade da menstruação, havendo uma escassez ou abundância no período menstrual. Os sintomas seguintes podem ser divididos em somáticos, psicossomáticos, psíquicos e clínicos. Nos somáticos, ondas de calor, transpiração, suor frio, dormências, formigamentos, dores musculares e articulares, dores nos seios, aumento de peso. Nos psicossomáticos, sensação de cansaço, de esgotamento, palpitações, tonteiras, vertigens e enxaquecas. Nos psíquicos, sensação de abafamento, de sufocação, irritabilidade, esquecimento, desinteresse, ansiedade e depressão e nos clínicos, são variáveis entre pessoas ou mesmo em uma única pessoa, dependendo da produção de estrogênio pelo organismo.

O homem, também é marcado por mudanças fisiológicas e psicológicas. Mas por maior que seja a queda da testosterona neste, ela não se compara à queda na menopausa dos hormônios femininos na mulher. Nele os sintomas se instalam lenta e progressivamente, e não há algo que limite realmente o início deste processo, pois não há neste tal como na mulher, uma fronteira entre um e outro período de vida.  Mesmo assim, o início da velhice que começa para o homem em torno dos 55 anos, também apresenta muitos sintomas semelhantes à menopausa feminina, tais como: dores ósseas, ansiedade, depressão, irritabilidade, etc. Nesta fase, em 15% dos casos surgem sintomas como perda de interesse sexual, problemas de ereção, falta de concentração, queda dos pelos, aumento de peso, insônia, entre outros mais. O medo de enfrentar desafios, seja na vida particular ou profissional, é um dos sintomas mais comuns. 

Não podemos nos esquecer de que as pressões num mundo competitivo exercidas sobre o homem, agora também afetam as mulheres, e o maior consumo de bebidas alcoólicas, o tabaco, estresse, uso de drogas consideradas ilícitas, são fatores adicionais que conduzem a uma pior qualidade de saúde e pode antecipar processos de envelhecimento além de comprometer este mesmo processo.

O indivíduo que chegar a este período de vida com um equilíbrio emocional estável, poderá superar e conviver muito bem com as dificuldades que forem se apresentando. Além das investigações por clínicos, endocrinologistas, ginecologistas e urologistas,  profissionais como psicólogos, psicanalistas, psiquiatras são muito importantes e seu trabalho costuma trazer  frutos bastante favoráveis para se encontrar este equilíbrio emocional tão necessário para uma vida saudável.

Alexandre de Abreu Valle - Psicologia Clínica
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quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Para ser bela não é preciso ser bonita

A busca da perfeição física é uma constante na vida das mulheres de todas as raças e culturas. A ambição por um corpo belo e atraente, de se ter uma pele saudável e um rosto bonito é alvo de mil estratégias adotadas em todas as épocas, fazendo da mulher um objeto condicionado à perfeitção, buscando sempre, dentro dos padrões vigentes, parecer bela, desejada, invejada.

Nesta luta entre a mulher e seu próprio corpo, o subjetivo, o elemento tão importante, às vezes se torna sufocado pela avalanche de influências culturais que através da propaganda, principalmente, escravizam a mulher fazendo dela um objeto já quase sem alma. E parece impossível conciliar as coisas. As mulheres que se dedicam a ideais mais nobres costumam se ver à margem da vaidade, muitas das vezes desleixando sua aparência ou pouco valorizando o que o físico pode representar como visualmente interessante num contexto social. Já em extremos, a grande maioria das mulheres, levadas por um conceito de beleza e de perfeição física um tanto utópico, e tão frequentemente mutável, geralmente se desliga de toda e qualquer atividade ou aspiração superior, vivendo às voltas com massagistas, cabeleireiros, modistas, esteticistas, cirurgiões plásticos, conforme dita a moda do momento.

Saltos altos, saltos baixos, vestidos longos ou curtos, cabelos naturais ou tintos, roupas sexys ou ingênuas e tantas outras oscilações, balançam a estrutura psicológica daquelas, que afoitas e entregues aos caprichos da moda, sufocam sua personalidade para chamar a atenção seja em alguma coluna social ou em nosso mundo contemporâneo, em postagens nas redes sociais, se reprimem em seu eu, deixando o mundo mandar em si, em seu jeito, em sua aparência.

Comum também é observar mulheres que apesar de inúmeros recursos não conseguem atingir aquele modelo ideal de revista, criada pelos "entendidos" de moda, se frustrando, retraindo, enclausurando-se num cem mil problemas, a tudo odiando, se isolando do mundo, sentindo-se inferiorizadas na sua condição de mulher, comprometendo até a estabilidade de suas relações.

Se pudéssemos falar sobre o ideal, este seria que a mulher consciente do seu valor, colocasse a beleza como fator importante, mas não fundamental, que desse a esse fator uma conotação mais ampla, além do visual de um corpo perfeito, do vislumbre de cabelos sedosos, da admiração de um rosto bonito e sensual; uma conotação mais profunda onde as qualidades dela como mulher pudessem ser enriquecidas, onde a fragilidade pudesse ser superada por sentimentos profundos e verdadeiros, onde o supérfluo e estritamente material pudesse voltar às raízes, onde a natureza se encarregasse de mostrar, na singeleza dos traços femininos, um outro conceito de beleza, um outro tipo de mulher. Infelizmente o que se obseva nesta luta incessante na busca da perfeição física, é uma a mulher que por mais que adote um rótulo feminino, acaba se futilizando, excedendo suas condições humanas, sacrificando por vezes a condição de ser mãe, de ser mulher.

E as consequências são drásticas, realmente sufocantes, apesar de disfarçadas por mil novos artifícios que tendem a substituir a feminilidade, influenciando de forma negativa sua plenitude do contexto mulher. É incrível como o suceder de gerações se entrega a essas normas, onde o corpo conta muito, às vezes é quase tudo, sufocando a mulher espírito, aquela que transcende e que não delimita potencialidades, para quem  o amor e o sentimento, a sensibilidade, a compreensão e o afeto ainda são valores vivos e atuantes, compensadores e ideais.

Apesar de tudo isto, ainda há tempo para podemos nos fazer ver que além da beleza ditada pelas normas da época, existe beleza contida na pureza de um sorriso, no sentimento de uma lágrima, no pulsar de um coração.

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quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Organizado ou desorganizado?

Organização versus desorganização: trata-se de uma controvérsia tão antiga quanto o mundo, e as duas partes dificilmente se entendem. O que é a ordem? A definição está no dicionário: "a conveniente disposição dos meios para obter os fins". Logicamente que as referências podem variar de uma pessoa para outra. Um exemplo bem elucidativo é a pessoa que só encontra aquilo que procura se ninguém mexer na montanha de papéis espalhados sobre sua mesa de trabalho. É um sistema pessoal, uma "ordem" própria que os outros definem como "bagunça", e que satisfaz plenamente a pessoa. Esse exemplo é válido para todos os desorganizados. Sua desorganização não é falsa; na realidade eles querem impor a si mesmos uma ordem, só que a sua maneira. É claro que para os desorganizados cada coisa tem o seu lugar. Contudo, eles colocam essa "alguma coisa" onde lhes der vontade. A diferença entre a pessoa organizada e a desorganizada é que a primeira sabe com exatidão como ocupar o espaço, enquanto a outra improvisa.

Essa falta de improvisação por parte dos organizados, essa cega obediência que eles mesmos se impõem perante certas regras e que exigem dos outros a mesma posição, lhes dão um ar de pessoa autoritária, um tanto maníaca e tirana. O organizado considera a bagunça uma verdadeira agressão para si, já que transforma segundo sua visão, o mundo num caos completo, enquanto o desorganizado diz que não perde seu tempo empilhando roupas e coisas, preferindo atividades mais criativas. Afinal, são as pessoas que lhe interessam e não as coisas; o organizado retruca dizendo que a ordem economiza seu tempo e dinheiro tornando-o mais racional, e organizando as coisas pode dedicar-se às pessoas com mais eficiência. A desordem tem a seu favor certa atração ligada ao binômio "gênio e desregramento", já a ordem é quase sempre associada à idéia de rigidez e falta de imaginação. Hoje em dia essa desconfiança pela ordem adquire um papel ainda mais marcante e profundo, enquanto a desordem aparece como sendo um "valor" em plena expansão, já que vivemos numa época mais livre, onde todos os valores são questionados com mais intensidade.

Algumas conclusões da Psicanálise são taxativas em condenar a ordem. Afirmam muitos dos psicanalistas que em certos casos a ordem pode ser o resultado de nossas angústias, isto é, uma reação para compensar alguns distúrbios da personalidade. Isso tudo nos levaria de volta à primeira infância, pela qual todos passamos, e se esta passagem se dá através de sistemas autoritários e com culpabilidade, pode se tornar uma verdadeira fábrica de maníacos da ordem. Portanto, aqueles indivíduos que ficam histéricos quando a casa não brilha como um espelho, devem saber que estão simplesmente respondendo às antigas ordens de manter-se limpos.  Desta maneira, quem poderia se orgulhar de qualidades que são simplesmente o reverso da repressão do inconsciente? 

É importante lembrar que pessoas organizadas nem sempre são inofensivas. Um conhecido assassino de mulheres anotava cuidadosamente numa agenda o nome de suas vítimas ao lado das despesas de deslocamentos necessários para chegar ao local do crime. Isso sem falarmos dos  apavorantes exemplos em nossa história recente,  com a tremenda eficiência da ordem apresentada a partir de depoimentos que relatam uma perfeita organização dos responsáveis pelos campos de extermínio nazistas, para obter maior "rendimento" possível das câmaras de gás e dos fornos crematórios.

Também muito discutível é outro tipo de ordem: a ordem social imposta pela força, pela violência. Às vezes a sociedade assume comportamento patológico, não diferente daquele dos maníacos da ordem. Pretende que tudo, não apenas as coisas mas também as idéias e as pessoas tenham um lugar rigorosamente marcado e que dali não se movam. É bem verdade que pessoas muito rígidas são as mais propensas a certos tipos de psicoses, justamente pelo fato de se afastarem pouco ou quase nada do que organizaram anteriormente. É assim que nascem as segregações raciais e as diversas discriminações, os privilégios, os bairros residenciais de etnias, os "guetos", etc. E a grande desculpa para tal: "É preciso manter a ordem", dizem as autoridades públicas. Mas podemos perguntar, será que essa não é quase sempre a fonte de arbitrariedades e de injustiças? Tantas injustiças com as quais nos deparamos diariamente, e talvez justamente por isso já não nos importamos com elas. Discriminações, segregações, tudo em nome da ordem que deve, a todo custo, vigorar. Mas há o outro lado da moeda: será que as pessoas que tem tendência a ser organizadas devem desconfiar desta sua propensão pelos simples fato de existirem alguns reversos negativos? Desejar ver uma cama perfeitamente arrumada significa talvez cultivar discutíveis tendências repressivas e reacionárias? E, ao contrário, o fato de viver o dia-a-dia sem programas determinados, comporta automaticamente sentir-se irresistivelmente atraído a cada impulso revolucionário?

Bastante comum é a existência de pessoas que vivem uma vida pessoal incoerente e desorganizada, mas que no plano das idéias se revelam pessoas organizadas, quase fanáticas. Há também os genuínos cultivadores de idéias avançadas que levam uma vida pessoal desorganizada, e essa atitude identifica-se com a recusa da ordem constituída. É lógico que isso não é regra: existem muitos exemplos de pessoas muito organizadas em todos os setores da vida.

Num casal, onde um é organizado e o outro desorganizado, essa "incompatibilidade" gera conflitos, além do que se possa imaginar. Viver na confusão quando se ama a ordem é um grande desafio. Forçar o outro a ser muito organizado, significa perturbar sua relação com as coisas, significa reprimi-lo dentro de um território que é seu, e não dos outros. 

Normalmente, na estrutura familiar, a mulher tem sido colocada como a representante maníaca da ordem: por que será? Evidentemente porque a casa costuma ser o seu domínio, ali ela costuma deter a maior parte das decisões, e o que os demais que residem ali podem fazer? Submeter-se ou se revoltar contra tal posição. O mais interessante, seria que cada um da família possa ter seu "território" a fim de que organize ou desorganize um cantinho a seu gosto. É uma ótima solução para se "fechar a porta", quando se quer, sobre a desorganização do outro. Uma coisa se apresenta bem clara,  organização ou desorganização contrariadas tendem a dificultar uma convivência em comum, e para que isto seja tolerável, em nenhum dos casos deve-se impor mais do que é possível suportar.

E aí nos deparamos com a fatídica pergunta: Será que é melhor ser organizado ou desorganizado? Por inúmeras vezes, ouviremos alguém afirmar: Os desorganizados são mais livres, menos tiranos e, por sua vez, menos escravos de regras rígidas, já a ordem, por sua vez, nos torna um pouco prisioneiros. O indivíduo organizado, geralmente não gosta nem do inesperado nem da improvisação. Se alguém aparecer na casa deste sem aviso prévio, a acolhida tenderá a ser desagradável,  já o desorganizado, que só para começar costuma estar desligado em relação às horas, será muito mais disponível para qualquer acontecimento inesperado.

Todavia, essa considerada liberdade, frequentemente causa prejuízos aos outros e a comunidade. Peguemos um simples exemplo em uma grande família: quando uma coisa ou objeto pertence a todos, deve-se coloca-la  no lugar convencionado. Todos devem encontrar a pasta de dentes no lugar mais adequado, ou seja, o banheiro, e não em outros lugares quaisquer da casa. Se algo simples assim já traria confusão aos componentes desta família, imagine  numa estrutura social ainda maior e mais complexa.

Cada sociedade precisa de um mínimo de convenções comuns sem as quais não se pode viver. O que se deveria pensar de uma sociedade onde os trens não partem no horário, ou onde não teríamos hora pré-estabelecida para o início das aulas? Quanto a famosa criatividade da desorganização, ela pode existir nos trabalhos que requerem liberdade de imaginação. Entretanto, quando precisamos administrar a vida do dia-a-dia, o que é mais eficaz, a organização ou a desorganização? É sabido que tendo alguma programação dos seus dias, pode-se encontrar tempo para quase tudo. Isto é válido para dos donos de casa, seus empregados, os profissionais de qualquer categoria ou qualquer pessoa que tenha uma atividade social.

Qualquer um deveria ser livre de viver segundo a própria natureza, desde que o resultado organizado ou desorganizado de sua forma de ser e agir esteja dentro daquilo que a comunidade está disposta a suportar. Em síntese, cada um deveria procurar agir com respeito em relação aos outros, sejam eles organizados ou desorganizados. 

Alexandre de Abreu Valle - Psicologia Clínica
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terça-feira, 3 de novembro de 2015

Depressão na meia-idade

A depressão tem acompanhado o homem através de sua história, é uma experiência universal. A depressão patológica, aquele sentimento de desespero avassalador muitas vezes sem causa aparente, é distinguível da tristeza comum por sua intensidade, duração e irracionalidade evidente e por seus efeitos nas vidas dos indivíduos acometidos por ela. No mundo contemporâneo, a depressão tem sido observada com maior intensidade e frequência, pois as pessoas tem sofrido todo tipo de pressão, seja por busca de resultados em uma sociedade extremamente competitiva, seja por uma desigualdade de condições para se atingir tais resultados, e até mesmo pelo envelhecimento maior da população em resposta aos avanços da medicina, por exemplo.

Alguns estudos observam que aproximadamente cinco entre cem adultos se tornam significativamente deprimidos em alguma época de suas vidas e a classificação padrão da depressão é frequentemente insatisfatória. Cada psicólogo e cada psiquiatra tem uma compreensão própria dos termos e usam suas próprias definições.

A depressão é um estado de humor passível de acometer pessoas de faixas etárias mais baixas, entretanto, é característico da velhice, uma vez que a sociedade ocidental não se preparou adequadamente para lidar com uma velhice prolongada, e em criar opções de atividades e apoio às pessoas que com a idade, se tornam menos produtivas. Na Roma antiga, Cícero já descrevia os velhos como "confusos, irritadiços, morosos e difíceis de se contentar", e este conceito ainda costuma estar presente em nossa sociedade. Nos indivíduos de meia-idade, a depressão costuma surgir após a aposentadoria, quando a pessoa passa a ter uma queda em sua atividade funcional produtiva, dificuldades de encontrar outras possibilidades de atividades de trabalho e lazer, a vivência de perdas ou mudanças súbitas nas circunstâncias de vida com a qual estava acostumado a lidar. Apesar disto, muitas vezes, a sintomatologia se mostra mais acentuada do que seria de se esperar em relação ao fator desencadeante. Isto se verifica quando percebemos que mesmo ao cessar a causa que levou o paciente a se sentir deprimido, não se percebe um breve retorno ao estado anteriormente vivido, como se poderia esperar. Portanto, a solidão, a insegurança, as vivências negativas no cotidiano familiar e outras situações mais, seriam as causas precipitantes ou contribuintes, mas não as específicas e determinantes.

Também chamada de reação psicótica involutiva, a melancolia é um distúrbio de comportamento e depressão comun de ser observada em individuos de meia-idade, e pode surgir exatamente durante o período involutivo destes. A senectude, é o período compreendido entre os 40 e 55 anos, e na mulheres se associa a alterações endócrinas específicas que se constituem na menopausa. Nessas alterações endócrinas as glândulas lançam seus hormônios diretamente na corrente sanguínea possibilitando uma rápida distribuição pelo corpo todo, afetando desta maneira, diferentes órgãos e tecidos. Nos homens, o processo é mais lento e traiçoeiro, pois à medida em que este envelhece cai a produção do hormônio sexual masculino, a testosterona. Porém, mesmo níveis mais baixos, os valores ainda podem ser considerados dentro de uma faixa de normalidade. Mesmo com algumas mudanças físicas e psicológicas atuando por conta da queda desse hormônio, nem todos irão apresentar sintomas característicos da andropausa, isso apenas acontece com indivíduos que têm uma diminuição mais expressiva dos níveis hormonais e, ainda assim, as manifestações são mais sutis e menos aparentes do que nas mulheres.

Esta costuma ser também uma época de vida, para as mulheres, frequentemente relacionada a mudanças características no status familiar e nas relações sócio-culturais. Para a mulher este período marca o estágio em que os filhos, aos quais ela devotou grande parte de seu tempo, tornam-se independentes e começam a deixar o lar, lhes tirando o controle sobre a criação e o cuidado para com os mesmos. Simultaneamente, as alterações da fisiologia endócrina levam à interrupção da ovulação, da menstruação, da capacidade reprodutiva e a outras mudanças corporais. Para muitas mulheres este é um período de crise, sentido como um marco do envelhecimento, e a isto soma-se toda a pressão exercida pela sociedade moderna, com suas cobranças por resultados, disputas por melhores colocações, por mais conhecimento, pela luta por igualdades de direitos, etc.

É neste período que muitas pessoas fazem um balanço de suas vidas e após vinte ou mais anos da vida adulta, questionam seus papéis e objetivos e descobrem que muitas de suas ambições não foram e provavelmente não serão realizadas. Significativa parte das pessoas desta faixa etária já atingiu o máximo do seu potencial de crescimento pessoal e profissional, e embora para algumas isto seja o bastante e a perspectiva de continuar na mesma linha seja atraente, para muitas outras esta é uma experiência extremamente frustrante. Torna-se difícil aceitar o fato de que suas ambições longamente acalentadas não poderão ser atingidas, ou se tornarão muito difíceis de serem alcançadas plenamente, e acabam por se revoltar contra sua situação, culpando a si mesmos ou aos outros pelas limitações e desapontamentos da vida.

Embora muitos pacientes nesta faixa de idade apresentem este quadro e lhe atribuam seus problemas, devemos observar com cuidado a consideração de uma significância causal específica às alterações endócrinas ou às  respostas emocionais à nova situação, pois o número de pessoas que passam pelas mesmas dificuldades e não se tornam psiquiatricamente doentes é bem maior do que o número de pacientes nesta condição emocional em desequilíbrio. Envelhecer não implica ter uma vida infeliz e sem estimulo, mas em decorrência de uma falta de política pública que contemple as questões relacionadas a terceira idade, podemos observar que estas vivências da meia-idade fornecem condições para as predisposições subjacentes se manifestarem. O indivíduo suscetível à derpessão mas que era anteriormente sustentado pela ambição, pelo otimismo, pelos prazeres e exigências emocionais do contato com a família e por uma boa saúde, sente-se agora ameaçado pela solidão, pela falta de atividades produtivas e de sentido de vida, pelas modificações em seu estado físico, e assim termina por desenvolver uma enfermidade emocional-psicológica.

O penoso reconhecimento da diminuição do trabalho físico e mental  se soma a uma angústia permanente pela segurança material e saúde futuras. É possível que a suscetibilidade à melancolia seja resultado de uma predisposição genética ou de um determinado tipo de personalidade. Há algumas evidências de que fatores hereditários predisponham o indivíduo ao desenvolvimento da melancolia involutiva, por exemplo, estudos demonstram que se um, entre gêmeos idênticos, tem uma enfermidade psiquiátrica involutiva, há 60% de probabilidade de que o segundo também desenvolva a mesma psicopatologia, já o percentual é muito menor em gêmeos não idênticos.

Os profissionais da área da psiquiatria, psicanálese e psicologia, cada qual com sua abordagem, podem colaborar efetivamente para que as pessoas que atravessam tais dificuldades tenham uma melhor qualidade de vida, se adaptando com mais harmonia às mudanças, e recuperando a motivação e o interesse pela vida e pelo que ela pode oferecer. Uma boa empatia entre paciente e profissional é fundamental neste processo. Para aquelas pessoas que não sofrem da doença depressiva, conseguir ter uma visão otimista do futuro pode ser o caminho para estabelecer um novo plano de vida e com isto encontrar  motivação para seguir de forma mais feliz, pois assim como o mundo moderno pressiona pela busca de resultados, também oferece uma série de facilidades tecnológicas, de comunicação e aprendizado que podem ser de grande valia nesta busca de uma nova e melhor condição de viver.

Alexandre de Abreu Valle - Psicologia Clínica
Cruzeiro - Cidade Nova
Consultas agendadas pelo telefone: (31) 984093040

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Educação Sexual, qual a sua importância?

A educação sexual tornou-se objeto de estudos nas últimas décadas e promove um grande número de trabalhos, pesquisas, cursos e campanhas em torno de si.  E isso ocorre, sobretudo, como direta consequência dos consideráveis progressos feitos não só pela Sexologia em si, como principalmente pela Psicologia e Psiquiatria no estudo e descobertas das raizes sexuais da conduta humana e dos seus múltiplos desvios, como a Psicose e a Neurose. Se por um lado verifica-se a imensa importância do desenvolvimento psicossexual na maturação e integração da personalidade, no equilíbrio emocional, no ajuste evolutivo em face das solicitações biológicas e sociais e, em suma, em todo o estado de saúde psíquica, por outro lado verifica-se também de maneira evidente e bem documentada pela pesquisa clínica, a influência das anomalias e alterações da vida sexual na gênese de numerosas situações psicopatológicas, desde o simples quadro neurótico até graves condutopatias, ou seja, neuroses de caráter e psicoses declaradas.

Daí a consequente atenção ao papel da sexualidade na dinâmica do psiquismo individual e às suas ilimitadas repercussões no desenvolvimento das inter-relações humanas. Importante então, a compreensão da necessidade de se ter uma educação sexual, destinada a minimizar os maus efeitos resultantes de erros, preconceitos, frustrações, temores, enfim, dificuldades de toda sorte na procura e obtenção da plenitude fisiopsicossexual. Com isso, uma certa necessidade de uma educação sexual ministrada no devido tempo, às crianças, adolescentes e até mesmo a adultos.

Desde o início, a criança demonstra curiosidade por seu corpo, embora de maneira diferente e em nível diverso que o adulto.A partir dos três para quatro anos começará a fazer perguntas a respeito de si própria e do lugar de onde veio. Perguntas que tem o direito de formular, sem medo nem vergonha. E todas elas devem ser respondidas, todas as dúvidas devem ser esclarecidas, verdadeira e honestamente, dando-se à criança informações suficientes para satisfazer sua curiosidade imediata. Nessa idade, uma ou duas frases de sentido ambíguo quase sempre são inadequadas.

O sexo é fundamental na natureza, e o fato da criança interesar-se por ele, constitui um fenômeno perfeitamente normal. Muitos psicólogos veem na atitude de uma criança perante o sexo em seus primeiros cinco ou seis anos de vida, um dos mais importantes fatores para a configuração de seu desenvolvimento e de toda sua vida futura. Esta atitude começa a delinear-se com o ato de viver. Tudo o que ocorre com a criança ou em seu ambiente, a deixa uma marca sutil. Muitos especialistas acreditam que a educação sexual começa no lar e com o nascimento.

A atitude dos pais com referência ao sexo e o modo de se tratarem um ao outro, irão possivelmente se refletir na criança. Se a mãe associa ao sexo a idéia de sofrimento ou perigo, se considera o fato de ser mulher uma sobrecarga e a maternidade um sacrifício, pode aos poucos legar à criança sementes de problemas que poderão perturbar sua vida no futuro. Da mesma maneira, o pai que trata a esposa como um ser inferior, pode provocar na criança uma atitude sexual capaz de originar conflitos íntimos, os quais poderão vir à tona em algum momento da vida, após permanecerem ocultos por um longo tempo.

A criança logo observa diferenças entre homens e mulheres, seja na voz, no aspecto anatômico, no modo de vestir, observa a presença de barba no homem, as diferentes tarefas que executam o homem e a mulher no lar, etc. Em um onde exista calor humano, amor e sinceridade, a criança irá sentir encorajada a formular livremente as perguntas sobre estas diferenças e a si própria. Se o pai e a mãe se mostram inibidos ou evasivos, ou se o assunto sexo é considerado tabu, a criança pode também chegar a encarar o sexo ou as partes a ele referentes em seu corpo, com nojo ou vergonha e no devido tempo terá um conceito equivocado de sexo, considerando-o algo ilícito, ao contrário de um processo natural.

Uma das principais dificuldades com a qual os pais se deparam ao tentar dirimir as dúvidas das crianças, é a falta de vocabulário adequado. A criança que aprende de outras crianças coisas sobre sexo, geralmente o faz através de palavras carregadas de associações maliciosas. Os pais que querem evitar isto veem-se frequentemente em situação de dificuldade para encontrar termos ou uma maneira adequada de abordar a questão. O conhecimento de termos mais adequados, lhes permitirá responder às perguntas das crianças com simplicidade e naturalidade, sem eufemismos ou inibição. O sexo esta presente em toda a natureza, entre as plantas e os animais, os mamíferos, os peixes e o simples conhecimento de biologia pode ajudar os pais a dar alguma explicação mais exata e sem grande dificuldade. Contudo, é preciso cuidado com comparações com o que se verifica na natureza, uma vez que o sexo ultrapassa, na espécie humana, as dimensões puramente biológicas e reprodutoras.

A educação sexual que constitui matéria nos cursos regulares para crianças em idade escolar e posterior, nos primeiros anos de vida não deve ensinar o que a criança não perguntar, embora seja necessário dizer a verdade, não é obrigatório que se lhe diga de uma vez toda a verdade. A criança de quatro a cinco anos, não exige nem pode compreender informações pormenorizadas. Tudo o que necessita são umas poucas palavras até que as tenha assimilado e volta a questionar, talvez muitos meses mais tarde. A verdade a ser dita deve ser a verdade ao alcance da criança.

Tudo o que for dito a criança por meio de generalidades ou comparações nos primeiros anos, e mais detalhadamente na adolescência, deverá ser dito com naturalidade. O sexo faz parte da vida e tem de se apresentado sem ênfase especial a um ser impressionável como é a criança. Se em seus primeiros anos de vida a criança recebe explicações verídicas, embora simples, ela se encontrará mais bem preparada para enfrentar as situações que surgirem na puberdade. Nessa idade, acumulam-se mudanças, e junto às transformações físicas, estes se veem assaltados por novas dúvidas, inquietudes e as vezes temores. A criança de antes agora necessitará de explicações adequadas às alterações físicas, compreensão total dos assuntos sexuais e de que a atração sexual é algo perfeitamente normal e acontece a todas as pessoas.

O rapaz assim melhor preparado poderá aceitar sem temor as mudanças que estarão ocorrendo e as moças, pelo fato de atingirem a puberdade mais rapidamente do que eles, geralmente necessitam de uma atenção mais precoce. Acrescentamos a isto o fato de que a vinda da primeira menstruação para uma menina desavisada e cheia de temores, pode ser uma experiência traumatizante. Da mesma forma, o rapaz que não tenha compreensão dos fenômenos do sexo, pode sentir alguma dificuldade ao se deparar com uma ejaculação noturna.

Assim sendo, quais seriam os fins principais de uma educação sexual? Em primeiro lugar, retirar do sexo o aspecto de mistério e pecado e deixar bem claro que se trata de algo bastante natural e que deverá ser entendido e aceito sem constrangimentos. Em segundo lugar, esclarecer aos jovens sobre a sexualidade, sua anatomia e fisiologia, proporcionando-lhes conhecimento a cerca de si. Em terceiro lugar, deixa-los a par das inevitáveis solicitações  da libido, das situações que poderão surgir a partir daí, das frustrações possíveis de acontecer, das prevenções saudáveis, de uma higiene mais correta, etc.

A chamada psiquiatria profunda ou psicodinâmica que procura desvendar mais profundamente o comportamento, através de pesquisas, apresenta que uma das fontes mais frequentes de impactos emocionais, de angústia e variados sintomas nervosos nos adultos dos dois sexos, costuma residir na falta de plenitude na atividade sexual. Excessos, deficiências, inibições, egoísmos, abandonos, brutalidades, perversões, depravações e uma série de fatos que determinam descontentamentos, insatisfações, irritabilidade, amargura, revolta e ódio. A vida sexual precisa constituir-se em uma razão não apenas de prazer mas também de bem estar. 

Alexandre de Abreu Valle - Psicologia Clínica
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terça-feira, 20 de outubro de 2015

Criança obesa é criança saudável?

Por muito tempo as crianças foram tratadas na literatura e mesmo no dia-a-dia da humanidade como pequenos seres desprovidos de vontade própria. Hoje a criança já foi elevada para uma classificação mais adequada. Entretanto, as arbitrariedades contra essas crianças continuam sendo praticadas. Além das péssimas condições de vida, muitas ainda são obrigadas a suportar as violências dos adultos, normalmente pessoas também marginalizadas ou apenas doentes, que aproveitam a fraqueza infantil, para exercer um certo poder. Por isso, devemos esperar que a Declaração Universal dos Direitos da Criança seja colocada em prática de forma plena. A criança sofre muito as consequências de tudo, justamente por sua condição de estar aberta a todo tipo de influência. O homem é o ser que tem a infância mais longa, sendo por isso extremamente dependente. Assim, as relações pessoais tem enorme importância no processo de desenvovimento da criança.
Os mitos, os tabus e as neuroses acabaram transformando a alimentação, de ato natural, em um problema complexo e delicado. Mães vivem preocupadas com a saúde de seus filhos e tem o hábito de relacioná-la com a quantidade de alimentos consumidos. Elas se esquecem, entretanto, que obesidade não é sinônimo de saúde.
Nos últimos 50 anos os conceitos sobre o peso das crianças mudaram bastante. Vários são os fatores que determinam o peso da criança. Há os de caráter ambiental e aqueles que são de consequência das condições físicas e fisiológicas da gestante. Por exemplo: uma mãe diabética poderá dar a luz a um bebê com mais de 4 quilos. Pediatras costumam afirmar que a vida da criança que nasce muito obesa será, fatalmente complicada. Células gordurosas de seu organismo solicitarão uma alimentação reforçada, e será provável que a obesidade o acompanhe durante toda a vida.
Embora o sonho da maioria das mães seja ter um bebê robusto e cheio de dobrinhas na pele, os cuidados com o filho rechonchudo demais devem ser os mesmos que se dão aquele que está abaixo da tabela estabelecida pelo pediatra.
A criança excessivamente gorda tende a se tornar um adulto obeso, forte candidato a hipertensão arterial, problemas vasculares e outras moléstias que coexistem com a obesidade. Isto porque células adiposas (de gordura) não diminuem em número, ao contrário aumentam sempre. Elas podem diminuir de tamanho, mas crescem novamente e com facilidade, daí a dificuldade de se manter o peso normal indicado para cada perfil de individuo.
A alimentação, um ato natural, não deveria constituir o menor problema se não estivesse cercada por tantas singularidades. Quem tem fome come, é esta a lógica da sobrevivência. Costuma-se muito observar em mães, principalmente as inexperientes, acreditarem que seu filho não mama de maneira correta. Na verdade esta preocupação costuma ter fundo psicológico: a mulher estaria desejando interromper a amamentação, mas recusa-se a aceitar esta sua vontade. Prefere então, considerar fraco e insuficiente o seu leite e "inventa" uma série de problemas.
Antes de tudo é necessário saber que cada indivíduo possui as suas próprias necessidades, e que são inteiramente diferentes das dos outros. Uns comem mais, outros comem menos; uns engordam mais, outros menos. Mas também pode acontecer o contrário. Forçar uma criança a se alimentar poderá trazer problemas futuros. Veja, se você não quer comer, com certeza faltou apetite ou até quem sabe, você não simpatizou-se com o prato. E você não gostaria se alguém o forçasse a comer. Isso acontece também com as crianças.
Ela passará a considerar como uma agressão um ato que deveria ser tão natural. Relacionará o comer com fatos desagradáveis. Alimentar-se é uma necessidade que a criança tem para com ela mesma e portanto, deve faze-lo quando tiver vontade. Com o tempo, ela descobrirá que se alimentar pode trazer muitas preocupações aos pais e assim poderá começar a fazer chantagens: "Eu como, mas você tem que fazer isto". As exigências poderão alcançar um nível insuportável. Cabe à mãe o dever de mostrar ao seu filho que comer é normal. Se ele se recusar a fazê-lo não se preocupe: onde há comida não se morre de fome.
Quando uma criança não quer comer pode ser que se trate de alguma doença orgânica, entretanto, muitos outros fatores podem estar influindo nessa atitude de repulsa. E são tão variados que, diante do problema, não se pode estabelecer padrões de procedimento. Há casos de babás e mães que, sem maiores problemas conseguem que as crianças comam na base de intimidação. Sabe-se que nem sempre esses procedimentos tem efeitos prejudiciais no desenvolvimento da personalidade infantil. Entretanto, sabe-se também que o risco de provocar tais efeitos é grande, assim como pode modelar a formação do caráter da criança.
São conhecidos também os inconvenientes dos procedimentos contrastantes quando a criança é tratada por duas ou mais pessoas ao mesmo tempo. Às vezes, a mãe é condescendente e o pai é repressivo. A criança sofre com a contradição dos dois estilos.
A reação negativa diante do alimento é natural por ocasião do desmame, e posteriormente com as mudanças e variações da dieta no processo de crescimento. Ela se torna problema maior quando a frequência for insistente, ou associada justamente a pressões punitivas. O bom humor para lidar com esta situação é fator importante de equilibrio para as pessoas que se relacionam com estas crianças, pois estas têm a tendência a copiar suas atitudes. É aconselhável lembrar nessas horas que a alimentação deve ser uma ocasião agradável, um prazer, e não um pesadelo para as crianças.
As crianças cujas necessidades orgânicas são satisfeitas diariamente pela ingestão de alimentos adequados, tem boa saúde, e a demonstram por meio de certos sinais. Têm músculos fortes, boa postura, pele elástica, cabelos sedosos e olhos vivos. Possuem bom apetite e dormem bem. Sua digestão é boa e as evacuações normais. Não se cansam facilmente. Gostam de brincar, são ativas e têm interesse pelo seu ambiente.
Apesar de um regime alimentar adequado ser essencial à manutenção da saúde, é preciso lembrar sempre que esta depende, também de outros fatores. As crianças devem brincar fora de casa, ao ar livre, exceto em condições climáticas inapropriadas. O jogos que fazem com que a criança se movimente são bons para manter o organismo em boas condições de saúde e servem para estimular o apetite. O repouso porém, é indispensável, servindo para contrabalançar os exercícios de maior queima de energia. A criança, principalmente o adolescente que gosta de ouvir música, ler um livro, ou simplesmente ficar deitado a sonhar, pode ser considerado feliz, pois o organismo precisa tanto de exercícios como de repouso para manter-se em perfeito estado de funcionamento.

Alexandre de Abreu Valle - Psicologia Clínica
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