terça-feira, 24 de novembro de 2015

Climatério - Menopausa e Andropausa

Ainda hoje, mesmo com todo avanço alcançado pela ciência médica e psicológica, o climatério tem sido olhado pelas pessoas que se aproximam deste período de vida como algo a se temer ou se ter desconfiança. Talvez, por ele ser considerado por muitos como o princípio do fim da vida, isto é, por ele se apresentar já no fim da idade adulta e começo da senil.

O climatério, seria o estágio de vida onde a reprodução cessa na mulher e que no homem, a chegada do envelhecimento físico pode vir junto com a falta desejo sexual, esta última muito ligada ao fator psicológico e, em alguns casos, à diminuição da produção de testosterona, o hormônio sexual masculino, fase chamada de Andropausa. O termo não é clinicamente adequado, mas como já adquiriu status de verdade pode ser usado sem maiores prejuízos. 

Em ambos os casos a queda de apetite sexual costuma estar presente, embora na mulher ela se de através do receio, da insegurança, de uma supersticiosa idéia de que com o fim do ciclo menstrual ela deixará de ser mulher. Talvez aí esteja o porque de muitas mulheres se sentirem frigidas, se imaginarem menos amadas. Na verdade o problema é mais psíquico, já que a mulher historicamente foi educada e criada para a maternidade, apesar destes conceitos estarem mudando em nosso mundo contemporâneo, onde a mulher inserida no mercado de trabalho e na busca pela igualdade de condições em relação ao homem tem deixado a maternidade em muitos casos em segundo plano ou até mesmo optando por não ser mãe.

O instinto reprodutor é muito mais acentuado na mulher que no homem e isto é visível desde a primeira infância, quando a menina é induzida a brincar de mãe, aprende a alimentar sua boneca e cuidar da casinha desta. Neste mesmo espaço de tempo o menino é levado a brincar de guerra, a se aventurar na rua em caçadas imaginárias (hoje cada vez mais raras por conta da violência das ruas) onde um pequeno inseto pode ser um leão ou mesmo um crocodilo, e as brincadeiras são muito mais voltadas para a competição. Com o desenvolvimento tecnológico, com games disponíveis a todos os gêneros, meninas tem sido introduzidas neste universo antes voltado apenas para os meninos, o que inclusive reforça o que foi dito anteriormente a respeito de mulheres estarem cada vez mais voltadas para o mundo competitivo antes dominado pelos homens.

O certo é que toda uma estrutura de vida é quebrada com a vinda da menopausa  e da andropausa. A menopausa, seja natural ou induzida, cria ou força um desencadeamento de reações, na grande maioria, negativas. Geralmente entre os 45, 50 anos a mulher entra em menopausa, excepcionalmente, pode ocorrer antes dos 40 e após os 50 anos. A menopausa ocorre quando o aparelho reprodutor feminino para com sua função, isto é, a ovulação termina e com isto o ciclo menstrual começa a ter um espaço maior até a sua total extinção. Em alguns casos mesmo após as chamadas regras terem acabado ainda existe a ovulação, comumente por um período não superior a um ano.

A menopausa artificial não tem idade definida e é provocada por alguma forma de cirurgia, sofrida pela mulher nos órgãos reprodutores, impedindo a ovulação ou criando a impossibilidade de reprodução. Costuma ser um dos fatores que cria na mulher a frigidez sexual e o desinteresse pelo sexo.

É também na menopausa que o corpo da mulher passa por outras modificações. As modificações sofridas na puberdade, apresentam o aparecimento dos seios além das primeiras menstruações, desta forma completando o aparelho reprodutor até então em formação. A menina se torna mulher, as formas se delineiam, o busto toma a forma definitiva. Já na menopausa a mulher apresenta manifestações somáticas, a pele se enruga, os cabelos perdem a pigmentação, os seios começam a murchar, a mulher se desinteressa pelo corpo e geralmente ganha peso e perde a forma. Ela já não procura ser atraente, isto em grande parte dos casos, pois existem mulheres que são tomadas por um novo vigor sexual e iniciam uma busca pela juventude, infelizmente muitas vezes também ultrapassando o limite saudável, se tornando obsessivas em relação a sentirem-se belas e atraentes, não conseguindo perceber que o efeito desta busca traz resultados contrários à intenção inicial. O ideal seria que a mulher se encontrasse preparada para enfrentar a menopausa como mais um dos ciclos da vida.

Talvez, se este ciclo de vida fosse encarado com melhor naturalidade, muitas complicações emocionais poderiam ser minimizadas, principalmente nas relações entre casais de sexos diferentes, já que nos de mesmo sexo a compreensão pode ser melhor resolvida pelo simples fato de ambos provavelmente passarem por situações semelhantes. Porém a mulher se sentindo menos amada, por se amar menos, pode fazer da vida a dois algo desinteressante e isto também pode ocorrer com o homem, já que os mais emotivos, menos autoconfiantes e seguros de si estão mais predispostos aos efeitos da apatia.

Algumas vezes e isto não é raro, é despertado na mulher assim como no homem, um desejo mais latente pelo mesmo sexo. Alguns explicam tal interesse por uma crença que a menopausa e a andropausa implicaria no fim do sexo, promovendo assim uma busca por novas motivações e conservando deste modo a sensação de amar e ser amada ou amado.

Problemas maiores podem ser percebidos em indivíduos emocionalmente instáveis. Mesmo a mulher que fez tratamento hormonal, pode ser levada a crises de depressão e de auto-destruição, com a aproximação da menopausa, ou pode como já citado, se tornar vítima de uma busca sem fim por uma juventude impossível de se atingir. O mesmo acontece com o homem. Não devemos nos esquecer que vivemos numa sociedade em que se cultua a juventude e  por isto marginaliza o velho.

Na mulher os sintomas costumam ser mais visíveis e se somatizam. Primeiro em relação à regularidade da menstruação, havendo uma escassez ou abundância no período menstrual. Os sintomas seguintes podem ser divididos em somáticos, psicossomáticos, psíquicos e clínicos. Nos somáticos, ondas de calor, transpiração, suor frio, dormências, formigamentos, dores musculares e articulares, dores nos seios, aumento de peso. Nos psicossomáticos, sensação de cansaço, de esgotamento, palpitações, tonteiras, vertigens e enxaquecas. Nos psíquicos, sensação de abafamento, de sufocação, irritabilidade, esquecimento, desinteresse, ansiedade e depressão e nos clínicos, são variáveis entre pessoas ou mesmo em uma única pessoa, dependendo da produção de estrogênio pelo organismo.

O homem, também é marcado por mudanças fisiológicas e psicológicas. Mas por maior que seja a queda da testosterona neste, ela não se compara à queda na menopausa dos hormônios femininos na mulher. Nele os sintomas se instalam lenta e progressivamente, e não há algo que limite realmente o início deste processo, pois não há neste tal como na mulher, uma fronteira entre um e outro período de vida.  Mesmo assim, o início da velhice que começa para o homem em torno dos 55 anos, também apresenta muitos sintomas semelhantes à menopausa feminina, tais como: dores ósseas, ansiedade, depressão, irritabilidade, etc. Nesta fase, em 15% dos casos surgem sintomas como perda de interesse sexual, problemas de ereção, falta de concentração, queda dos pelos, aumento de peso, insônia, entre outros mais. O medo de enfrentar desafios, seja na vida particular ou profissional, é um dos sintomas mais comuns. 

Não podemos nos esquecer de que as pressões num mundo competitivo exercidas sobre o homem, agora também afetam as mulheres, e o maior consumo de bebidas alcoólicas, o tabaco, estresse, uso de drogas consideradas ilícitas, são fatores adicionais que conduzem a uma pior qualidade de saúde e pode antecipar processos de envelhecimento além de comprometer este mesmo processo.

O indivíduo que chegar a este período de vida com um equilíbrio emocional estável, poderá superar e conviver muito bem com as dificuldades que forem se apresentando. Além das investigações por clínicos, endocrinologistas, ginecologistas e urologistas,  profissionais como psicólogos, psicanalistas, psiquiatras são muito importantes e seu trabalho costuma trazer  frutos bastante favoráveis para se encontrar este equilíbrio emocional tão necessário para uma vida saudável.

Alexandre de Abreu Valle - Psicologia Clínica
Consultórios: Cruzeiro - Cidade Nova
Consultas agendadas pelo telefone: (31) 984093040

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Para ser bela não é preciso ser bonita

A busca da perfeição física é uma constante na vida das mulheres de todas as raças e culturas. A ambição por um corpo belo e atraente, de se ter uma pele saudável e um rosto bonito é alvo de mil estratégias adotadas em todas as épocas, fazendo da mulher um objeto condicionado à perfeitção, buscando sempre, dentro dos padrões vigentes, parecer bela, desejada, invejada.

Nesta luta entre a mulher e seu próprio corpo, o subjetivo, o elemento tão importante, às vezes se torna sufocado pela avalanche de influências culturais que através da propaganda, principalmente, escravizam a mulher fazendo dela um objeto já quase sem alma. E parece impossível conciliar as coisas. As mulheres que se dedicam a ideais mais nobres costumam se ver à margem da vaidade, muitas das vezes desleixando sua aparência ou pouco valorizando o que o físico pode representar como visualmente interessante num contexto social. Já em extremos, a grande maioria das mulheres, levadas por um conceito de beleza e de perfeição física um tanto utópico, e tão frequentemente mutável, geralmente se desliga de toda e qualquer atividade ou aspiração superior, vivendo às voltas com massagistas, cabeleireiros, modistas, esteticistas, cirurgiões plásticos, conforme dita a moda do momento.

Saltos altos, saltos baixos, vestidos longos ou curtos, cabelos naturais ou tintos, roupas sexys ou ingênuas e tantas outras oscilações, balançam a estrutura psicológica daquelas, que afoitas e entregues aos caprichos da moda, sufocam sua personalidade para chamar a atenção seja em alguma coluna social ou em nosso mundo contemporâneo, em postagens nas redes sociais, se reprimem em seu eu, deixando o mundo mandar em si, em seu jeito, em sua aparência.

Comum também é observar mulheres que apesar de inúmeros recursos não conseguem atingir aquele modelo ideal de revista, criada pelos "entendidos" de moda, se frustrando, retraindo, enclausurando-se num cem mil problemas, a tudo odiando, se isolando do mundo, sentindo-se inferiorizadas na sua condição de mulher, comprometendo até a estabilidade de suas relações.

Se pudéssemos falar sobre o ideal, este seria que a mulher consciente do seu valor, colocasse a beleza como fator importante, mas não fundamental, que desse a esse fator uma conotação mais ampla, além do visual de um corpo perfeito, do vislumbre de cabelos sedosos, da admiração de um rosto bonito e sensual; uma conotação mais profunda onde as qualidades dela como mulher pudessem ser enriquecidas, onde a fragilidade pudesse ser superada por sentimentos profundos e verdadeiros, onde o supérfluo e estritamente material pudesse voltar às raízes, onde a natureza se encarregasse de mostrar, na singeleza dos traços femininos, um outro conceito de beleza, um outro tipo de mulher. Infelizmente o que se obseva nesta luta incessante na busca da perfeição física, é uma a mulher que por mais que adote um rótulo feminino, acaba se futilizando, excedendo suas condições humanas, sacrificando por vezes a condição de ser mãe, de ser mulher.

E as consequências são drásticas, realmente sufocantes, apesar de disfarçadas por mil novos artifícios que tendem a substituir a feminilidade, influenciando de forma negativa sua plenitude do contexto mulher. É incrível como o suceder de gerações se entrega a essas normas, onde o corpo conta muito, às vezes é quase tudo, sufocando a mulher espírito, aquela que transcende e que não delimita potencialidades, para quem  o amor e o sentimento, a sensibilidade, a compreensão e o afeto ainda são valores vivos e atuantes, compensadores e ideais.

Apesar de tudo isto, ainda há tempo para podemos nos fazer ver que além da beleza ditada pelas normas da época, existe beleza contida na pureza de um sorriso, no sentimento de uma lágrima, no pulsar de um coração.

Alexandre de Abreu Valle - Psicologia Clínica
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quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Organizado ou desorganizado?

Organização versus desorganização: trata-se de uma controvérsia tão antiga quanto o mundo, e as duas partes dificilmente se entendem. O que é a ordem? A definição está no dicionário: "a conveniente disposição dos meios para obter os fins". Logicamente que as referências podem variar de uma pessoa para outra. Um exemplo bem elucidativo é a pessoa que só encontra aquilo que procura se ninguém mexer na montanha de papéis espalhados sobre sua mesa de trabalho. É um sistema pessoal, uma "ordem" própria que os outros definem como "bagunça", e que satisfaz plenamente a pessoa. Esse exemplo é válido para todos os desorganizados. Sua desorganização não é falsa; na realidade eles querem impor a si mesmos uma ordem, só que a sua maneira. É claro que para os desorganizados cada coisa tem o seu lugar. Contudo, eles colocam essa "alguma coisa" onde lhes der vontade. A diferença entre a pessoa organizada e a desorganizada é que a primeira sabe com exatidão como ocupar o espaço, enquanto a outra improvisa.

Essa falta de improvisação por parte dos organizados, essa cega obediência que eles mesmos se impõem perante certas regras e que exigem dos outros a mesma posição, lhes dão um ar de pessoa autoritária, um tanto maníaca e tirana. O organizado considera a bagunça uma verdadeira agressão para si, já que transforma segundo sua visão, o mundo num caos completo, enquanto o desorganizado diz que não perde seu tempo empilhando roupas e coisas, preferindo atividades mais criativas. Afinal, são as pessoas que lhe interessam e não as coisas; o organizado retruca dizendo que a ordem economiza seu tempo e dinheiro tornando-o mais racional, e organizando as coisas pode dedicar-se às pessoas com mais eficiência. A desordem tem a seu favor certa atração ligada ao binômio "gênio e desregramento", já a ordem é quase sempre associada à idéia de rigidez e falta de imaginação. Hoje em dia essa desconfiança pela ordem adquire um papel ainda mais marcante e profundo, enquanto a desordem aparece como sendo um "valor" em plena expansão, já que vivemos numa época mais livre, onde todos os valores são questionados com mais intensidade.

Algumas conclusões da Psicanálise são taxativas em condenar a ordem. Afirmam muitos dos psicanalistas que em certos casos a ordem pode ser o resultado de nossas angústias, isto é, uma reação para compensar alguns distúrbios da personalidade. Isso tudo nos levaria de volta à primeira infância, pela qual todos passamos, e se esta passagem se dá através de sistemas autoritários e com culpabilidade, pode se tornar uma verdadeira fábrica de maníacos da ordem. Portanto, aqueles indivíduos que ficam histéricos quando a casa não brilha como um espelho, devem saber que estão simplesmente respondendo às antigas ordens de manter-se limpos.  Desta maneira, quem poderia se orgulhar de qualidades que são simplesmente o reverso da repressão do inconsciente? 

É importante lembrar que pessoas organizadas nem sempre são inofensivas. Um conhecido assassino de mulheres anotava cuidadosamente numa agenda o nome de suas vítimas ao lado das despesas de deslocamentos necessários para chegar ao local do crime. Isso sem falarmos dos  apavorantes exemplos em nossa história recente,  com a tremenda eficiência da ordem apresentada a partir de depoimentos que relatam uma perfeita organização dos responsáveis pelos campos de extermínio nazistas, para obter maior "rendimento" possível das câmaras de gás e dos fornos crematórios.

Também muito discutível é outro tipo de ordem: a ordem social imposta pela força, pela violência. Às vezes a sociedade assume comportamento patológico, não diferente daquele dos maníacos da ordem. Pretende que tudo, não apenas as coisas mas também as idéias e as pessoas tenham um lugar rigorosamente marcado e que dali não se movam. É bem verdade que pessoas muito rígidas são as mais propensas a certos tipos de psicoses, justamente pelo fato de se afastarem pouco ou quase nada do que organizaram anteriormente. É assim que nascem as segregações raciais e as diversas discriminações, os privilégios, os bairros residenciais de etnias, os "guetos", etc. E a grande desculpa para tal: "É preciso manter a ordem", dizem as autoridades públicas. Mas podemos perguntar, será que essa não é quase sempre a fonte de arbitrariedades e de injustiças? Tantas injustiças com as quais nos deparamos diariamente, e talvez justamente por isso já não nos importamos com elas. Discriminações, segregações, tudo em nome da ordem que deve, a todo custo, vigorar. Mas há o outro lado da moeda: será que as pessoas que tem tendência a ser organizadas devem desconfiar desta sua propensão pelos simples fato de existirem alguns reversos negativos? Desejar ver uma cama perfeitamente arrumada significa talvez cultivar discutíveis tendências repressivas e reacionárias? E, ao contrário, o fato de viver o dia-a-dia sem programas determinados, comporta automaticamente sentir-se irresistivelmente atraído a cada impulso revolucionário?

Bastante comum é a existência de pessoas que vivem uma vida pessoal incoerente e desorganizada, mas que no plano das idéias se revelam pessoas organizadas, quase fanáticas. Há também os genuínos cultivadores de idéias avançadas que levam uma vida pessoal desorganizada, e essa atitude identifica-se com a recusa da ordem constituída. É lógico que isso não é regra: existem muitos exemplos de pessoas muito organizadas em todos os setores da vida.

Num casal, onde um é organizado e o outro desorganizado, essa "incompatibilidade" gera conflitos, além do que se possa imaginar. Viver na confusão quando se ama a ordem é um grande desafio. Forçar o outro a ser muito organizado, significa perturbar sua relação com as coisas, significa reprimi-lo dentro de um território que é seu, e não dos outros. 

Normalmente, na estrutura familiar, a mulher tem sido colocada como a representante maníaca da ordem: por que será? Evidentemente porque a casa costuma ser o seu domínio, ali ela costuma deter a maior parte das decisões, e o que os demais que residem ali podem fazer? Submeter-se ou se revoltar contra tal posição. O mais interessante, seria que cada um da família possa ter seu "território" a fim de que organize ou desorganize um cantinho a seu gosto. É uma ótima solução para se "fechar a porta", quando se quer, sobre a desorganização do outro. Uma coisa se apresenta bem clara,  organização ou desorganização contrariadas tendem a dificultar uma convivência em comum, e para que isto seja tolerável, em nenhum dos casos deve-se impor mais do que é possível suportar.

E aí nos deparamos com a fatídica pergunta: Será que é melhor ser organizado ou desorganizado? Por inúmeras vezes, ouviremos alguém afirmar: Os desorganizados são mais livres, menos tiranos e, por sua vez, menos escravos de regras rígidas, já a ordem, por sua vez, nos torna um pouco prisioneiros. O indivíduo organizado, geralmente não gosta nem do inesperado nem da improvisação. Se alguém aparecer na casa deste sem aviso prévio, a acolhida tenderá a ser desagradável,  já o desorganizado, que só para começar costuma estar desligado em relação às horas, será muito mais disponível para qualquer acontecimento inesperado.

Todavia, essa considerada liberdade, frequentemente causa prejuízos aos outros e a comunidade. Peguemos um simples exemplo em uma grande família: quando uma coisa ou objeto pertence a todos, deve-se coloca-la  no lugar convencionado. Todos devem encontrar a pasta de dentes no lugar mais adequado, ou seja, o banheiro, e não em outros lugares quaisquer da casa. Se algo simples assim já traria confusão aos componentes desta família, imagine  numa estrutura social ainda maior e mais complexa.

Cada sociedade precisa de um mínimo de convenções comuns sem as quais não se pode viver. O que se deveria pensar de uma sociedade onde os trens não partem no horário, ou onde não teríamos hora pré-estabelecida para o início das aulas? Quanto a famosa criatividade da desorganização, ela pode existir nos trabalhos que requerem liberdade de imaginação. Entretanto, quando precisamos administrar a vida do dia-a-dia, o que é mais eficaz, a organização ou a desorganização? É sabido que tendo alguma programação dos seus dias, pode-se encontrar tempo para quase tudo. Isto é válido para dos donos de casa, seus empregados, os profissionais de qualquer categoria ou qualquer pessoa que tenha uma atividade social.

Qualquer um deveria ser livre de viver segundo a própria natureza, desde que o resultado organizado ou desorganizado de sua forma de ser e agir esteja dentro daquilo que a comunidade está disposta a suportar. Em síntese, cada um deveria procurar agir com respeito em relação aos outros, sejam eles organizados ou desorganizados. 

Alexandre de Abreu Valle - Psicologia Clínica
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terça-feira, 3 de novembro de 2015

Depressão na meia-idade

A depressão tem acompanhado o homem através de sua história, é uma experiência universal. A depressão patológica, aquele sentimento de desespero avassalador muitas vezes sem causa aparente, é distinguível da tristeza comum por sua intensidade, duração e irracionalidade evidente e por seus efeitos nas vidas dos indivíduos acometidos por ela. No mundo contemporâneo, a depressão tem sido observada com maior intensidade e frequência, pois as pessoas tem sofrido todo tipo de pressão, seja por busca de resultados em uma sociedade extremamente competitiva, seja por uma desigualdade de condições para se atingir tais resultados, e até mesmo pelo envelhecimento maior da população em resposta aos avanços da medicina, por exemplo.

Alguns estudos observam que aproximadamente cinco entre cem adultos se tornam significativamente deprimidos em alguma época de suas vidas e a classificação padrão da depressão é frequentemente insatisfatória. Cada psicólogo e cada psiquiatra tem uma compreensão própria dos termos e usam suas próprias definições.

A depressão é um estado de humor passível de acometer pessoas de faixas etárias mais baixas, entretanto, é característico da velhice, uma vez que a sociedade ocidental não se preparou adequadamente para lidar com uma velhice prolongada, e em criar opções de atividades e apoio às pessoas que com a idade, se tornam menos produtivas. Na Roma antiga, Cícero já descrevia os velhos como "confusos, irritadiços, morosos e difíceis de se contentar", e este conceito ainda costuma estar presente em nossa sociedade. Nos indivíduos de meia-idade, a depressão costuma surgir após a aposentadoria, quando a pessoa passa a ter uma queda em sua atividade funcional produtiva, dificuldades de encontrar outras possibilidades de atividades de trabalho e lazer, a vivência de perdas ou mudanças súbitas nas circunstâncias de vida com a qual estava acostumado a lidar. Apesar disto, muitas vezes, a sintomatologia se mostra mais acentuada do que seria de se esperar em relação ao fator desencadeante. Isto se verifica quando percebemos que mesmo ao cessar a causa que levou o paciente a se sentir deprimido, não se percebe um breve retorno ao estado anteriormente vivido, como se poderia esperar. Portanto, a solidão, a insegurança, as vivências negativas no cotidiano familiar e outras situações mais, seriam as causas precipitantes ou contribuintes, mas não as específicas e determinantes.

Também chamada de reação psicótica involutiva, a melancolia é um distúrbio de comportamento e depressão comun de ser observada em individuos de meia-idade, e pode surgir exatamente durante o período involutivo destes. A senectude, é o período compreendido entre os 40 e 55 anos, e na mulheres se associa a alterações endócrinas específicas que se constituem na menopausa. Nessas alterações endócrinas as glândulas lançam seus hormônios diretamente na corrente sanguínea possibilitando uma rápida distribuição pelo corpo todo, afetando desta maneira, diferentes órgãos e tecidos. Nos homens, o processo é mais lento e traiçoeiro, pois à medida em que este envelhece cai a produção do hormônio sexual masculino, a testosterona. Porém, mesmo níveis mais baixos, os valores ainda podem ser considerados dentro de uma faixa de normalidade. Mesmo com algumas mudanças físicas e psicológicas atuando por conta da queda desse hormônio, nem todos irão apresentar sintomas característicos da andropausa, isso apenas acontece com indivíduos que têm uma diminuição mais expressiva dos níveis hormonais e, ainda assim, as manifestações são mais sutis e menos aparentes do que nas mulheres.

Esta costuma ser também uma época de vida, para as mulheres, frequentemente relacionada a mudanças características no status familiar e nas relações sócio-culturais. Para a mulher este período marca o estágio em que os filhos, aos quais ela devotou grande parte de seu tempo, tornam-se independentes e começam a deixar o lar, lhes tirando o controle sobre a criação e o cuidado para com os mesmos. Simultaneamente, as alterações da fisiologia endócrina levam à interrupção da ovulação, da menstruação, da capacidade reprodutiva e a outras mudanças corporais. Para muitas mulheres este é um período de crise, sentido como um marco do envelhecimento, e a isto soma-se toda a pressão exercida pela sociedade moderna, com suas cobranças por resultados, disputas por melhores colocações, por mais conhecimento, pela luta por igualdades de direitos, etc.

É neste período que muitas pessoas fazem um balanço de suas vidas e após vinte ou mais anos da vida adulta, questionam seus papéis e objetivos e descobrem que muitas de suas ambições não foram e provavelmente não serão realizadas. Significativa parte das pessoas desta faixa etária já atingiu o máximo do seu potencial de crescimento pessoal e profissional, e embora para algumas isto seja o bastante e a perspectiva de continuar na mesma linha seja atraente, para muitas outras esta é uma experiência extremamente frustrante. Torna-se difícil aceitar o fato de que suas ambições longamente acalentadas não poderão ser atingidas, ou se tornarão muito difíceis de serem alcançadas plenamente, e acabam por se revoltar contra sua situação, culpando a si mesmos ou aos outros pelas limitações e desapontamentos da vida.

Embora muitos pacientes nesta faixa de idade apresentem este quadro e lhe atribuam seus problemas, devemos observar com cuidado a consideração de uma significância causal específica às alterações endócrinas ou às  respostas emocionais à nova situação, pois o número de pessoas que passam pelas mesmas dificuldades e não se tornam psiquiatricamente doentes é bem maior do que o número de pacientes nesta condição emocional em desequilíbrio. Envelhecer não implica ter uma vida infeliz e sem estimulo, mas em decorrência de uma falta de política pública que contemple as questões relacionadas a terceira idade, podemos observar que estas vivências da meia-idade fornecem condições para as predisposições subjacentes se manifestarem. O indivíduo suscetível à derpessão mas que era anteriormente sustentado pela ambição, pelo otimismo, pelos prazeres e exigências emocionais do contato com a família e por uma boa saúde, sente-se agora ameaçado pela solidão, pela falta de atividades produtivas e de sentido de vida, pelas modificações em seu estado físico, e assim termina por desenvolver uma enfermidade emocional-psicológica.

O penoso reconhecimento da diminuição do trabalho físico e mental  se soma a uma angústia permanente pela segurança material e saúde futuras. É possível que a suscetibilidade à melancolia seja resultado de uma predisposição genética ou de um determinado tipo de personalidade. Há algumas evidências de que fatores hereditários predisponham o indivíduo ao desenvolvimento da melancolia involutiva, por exemplo, estudos demonstram que se um, entre gêmeos idênticos, tem uma enfermidade psiquiátrica involutiva, há 60% de probabilidade de que o segundo também desenvolva a mesma psicopatologia, já o percentual é muito menor em gêmeos não idênticos.

Os profissionais da área da psiquiatria, psicanálese e psicologia, cada qual com sua abordagem, podem colaborar efetivamente para que as pessoas que atravessam tais dificuldades tenham uma melhor qualidade de vida, se adaptando com mais harmonia às mudanças, e recuperando a motivação e o interesse pela vida e pelo que ela pode oferecer. Uma boa empatia entre paciente e profissional é fundamental neste processo. Para aquelas pessoas que não sofrem da doença depressiva, conseguir ter uma visão otimista do futuro pode ser o caminho para estabelecer um novo plano de vida e com isto encontrar  motivação para seguir de forma mais feliz, pois assim como o mundo moderno pressiona pela busca de resultados, também oferece uma série de facilidades tecnológicas, de comunicação e aprendizado que podem ser de grande valia nesta busca de uma nova e melhor condição de viver.

Alexandre de Abreu Valle - Psicologia Clínica
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