quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Saiba quando procurar ajuda

Anualmente são registrados no Brasil cerca de doze mil casos de suicídio, mais de um milhão em todo o planeta. Uma triste realidade que apresenta cada vez mais casos entre indivíduos jovens. Segundo as estatísticas, cerca de 96,8% dos casos se relacionam com transtornos mentais. Como causas a depressão, o transtorno bipolar, o uso de substâncias tóxicas lícitas ou ilícitas.

Desde 2014, uma parceria entre a Associação Brasileira de Psiquiatria, os Conselhos Federais de Psicologia e Medicina organizam a campanha Setembro Amarelo, quando oficialmente o dia 10 de setembro é designado como o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. Porém, a campanha é estendida por todo o ano e tem como objetivo prevenir e reduzir esse triste quadro.


Com elevado esforço se conseguiu garantir um espaço até então inédito na imprensa, foram firmadas parcerias, se conseguiu que intervenções de divulgação da campanha de conscientização aconteçam em monumentos históricos, espaços públicos e privados, espaços turísticos em todo o território nacional.

Agora em 2020 veio a pandemia, e um fenômeno talvez jamais visto em nossa história recente tem provocado um aumento significativo nos casos de indivíduos traumatizados, seja pelo confinamento, seja pela perda de entes queridos ou pela perda de sua capacidade econômica. Tudo isso tem contribuído para o comprometimento da saúde mental da população mundial em geral. 

Em nosso país a forma mal orquestrada com a qual o combate à pandemia tem sido administrada, acabou por provocar um stress desnecessário em relação ao isolamento social, medida fundamental para que se protegesse o cidadão contra o Covid-19. E essa falta de coordenação adequada acaba por por intensificar os sentimentos de ansiedade e tristeza que um isolamento social pode provocar a longo prazo. 
 
A Organização Mundial de Saúde chega a cogitar o surgimento de uma outra pandemia, de Transtornos Mentais. Países como os Estados Unidos e Brasil são exemplos onde doenças como a depressão afeta grande parte de sua população. Não à toa a grande preocupação de todos os profissionais de saúde, que lidam com esse tipo de distúrbio emocional com relação à prevenção e a ajuda aos que apresentam esse tipo de quadro psíquico. Daí a importância de se entender como a depressão atinge cada indivíduo, quais são os sinais de alerta e quando é a hora de se pedir ajuda.

Com a chegada da campanha Setembro Amarelo, a atenção se redobra ainda mais por estarmos vivendo o traumático perído de pandemia e confinamento. Naturalmente o ser humano é um ser sociável, e a condição de se manter isolado apesar de todos os vínculos virtuais que a tecnologia oferece, acaba sendo um comportamento que foge da natureza humana. E isso afeta de maneira significativa o emocional, levando muitas pessoas a transtornos de ansiedade, pânico, estresse, fobias, culminando com um quadro de depressão.

Como a pandemia de Covid-19 atinge os indivíduos de todo o planeta simultaneamente, o número de pessoas afetadas pelo trauma emocional dessa condição aumentou de maneira jamais vista em nosso tempo. Os diagnósticos de estresse pós-traumático  a partir da pandemia acabou por comprometer a saúde mental da população mundial. 

O distanciamento social prolongado e descoordenado pode ser ainda mais intenso entre os indivíduos que estão acostumados a uma vida urbana agitada, retirados de sua rotina normal. Ficar alerta a sinais de alterações comportamentais é fundamental para se identificar quando a pessoa está precisando de uma ajuda profissional. Duas importantes expressões emocionais são o medo e a tristeza. O primeiro é gerador de ansiedade, o segundo está diretamente ligado à depressão. 

Quando o indivíduo apresenta essas emoções de forma constante e intensa, isso é sinal de algo foge de um equilíbrio em seu estado psicológico. Essa condição pode leva-lo a um isolamento de sí mesmo, para muito além da situação que vivemos de um isolamento social para preservarmos nossa saúde física e a dos demais indivíduos em sociedade.
 
O indivíduo passa a adotar um comportamento apático, tristonho, sem manifestar o desejo de se alimentar. Pode também passar a ter dificuldade para dormir, ficar muito conectado a situações geradoras de ansiedade, ficando irritadiço até chegar a criar situações de desentendimentos familiares.

Comentários que demonstrem desespero, desesperança e desamparo podem ser uma manifestação de uma ideação suicida. É importante ficar atendo a expressões do tipo: "eu desejaria não ter nascido", "caso não nos encontremos de novo", "eu preferia estar morto", são sinais de alerta. 

Como já dito, a pandemia tem intensificado alguns fatores estressores crônicos significativos como a perda de uma pessoa próxima, prejuízos econômicos e sociais, falência, perda de emprego e até uma separação conjugal, já que nesse período temos observado relatos de muitos desentendimentos e agressões verbais e físicas entre casais que passaram a sofrer um maior estresse pela convivência cotidiana de confinamento. 

Também é importante observar se há algum tipo de comportamento que sugere alguma preparação fora do comum, recados ou bilhetes nas redes sociais, doação de posses importantes, ligações incomuns a parentes e amigos com comportamento de despedida. Também é interessante observar o acúmulo de medicação em grande quantidade, ou acesso a locais elevados ou armas de fogo. 

Por mais que o indivíduo planeje o suicídio, muitas das vezes esse acontece motivado por eventos negativos, recentes ou não. O impulso costuma ser geralmente transitório com curta duração, muito presente entre jovens e adolescentes. O abuso de substancias tóxicas pode acentuar essa impulsividade.

Recentemente o caso da menina de dez anos que usou seu direito legal de interromper uma gravidez oriunda da violência sexual que sofria desde os seis anos de idade por parte de um tio, exemplifica que situações onde o indivíduo sofre maus tratos, abusos físicos, sexuais ou psicológicos na infância associado a falta de apoio social como vimos demonstrado por parte da sociedade nesse caso, motivada por ideologismos, fundamentalismo religioso e ignorância transformou a situação num trauma ainda maior trazendo mais sofrimento emocional para essa criança. Esse tipo de situação colabora para o aumento do risco de suicídio.

Doenças crônicas também são fatores de risco para comportamentos suicidas. Pensamentos que consideram a morte como "um meio de sair do sentimento momentâneo de infelicidade", "acabar com a dor", "encontrar descanso" ou "final mais rápido para os meus sofrimentos", são sinais de alerta e um acompanhamento médico dessas pessoas deve incluir atenção especial à sua saúde mental.

Além das abordagens terapêuticas profissionais, também é muito importante o apoio e acolhimento que possamos oferecer aos indivíduos com essas alterações de comportamento. Procurar ouvir a pessoa é fundamental. Conversar é acolher, dê voz a quem precisa de você. Hoje temos ferramentas muito importantes oferecidas pela tecnologia que podem aproximar as pessoas e auxiliar nesse processo. 

Com tranquilidade, generosidade e paciência podemos contribuir muito para que esses indivíduos se sintam acolhidos, ouvidos, respeitados e assim possam ter o apoio necessário para vencer suas dificuldades e obter uma melhor qualidade de vida, em harmonia e equilíbrio.


Alexandre de Abreu Valle - Psicologia Clínica - CRP 04/10120
Atendimento e Acompanhamento Psicológico
Elaboração de Laudos Psicológicos para liberação de cirurgias bariátricas e metabólicas
Atendimento e Acompanhamento: Pré e Pós Operatório
Consultas presenciais / Consultas por chamada de vídeo - Agendadas pelo Tel: (31) 9 84093040
Consultório: Rua Sabino Barroso, 133/403 - Cruzeiro - Belo Horizonte - MG











 


domingo, 29 de março de 2020

É possível manter um isolamento social saudável?


Agora em 2020 atravessamos um momento de séria crise na saúde pública mundial promovida pela disseminação de um vírus letal para grande parte da população, principalmente pessoas acima dos 60 anos de idade e com comorbidades associadas. 

Entretanto, esse vírus não infecta apenas indivíduos a partir dessa faixa etária. Dados alarmantes informam que pessoas mais novas também adoecem e muitas chegarão a óbito pela contaminação e pelos problemas ao sistema respiratório que este vírus promove. Já há relato oficial da morte de uma jovem na faixa dos 16 anos, o que não livra pessoa alguma do risco de contaminação.


Em 1918, também houve em todo o mundo uma situação tal como a que vivenciamos pelo Convid-19. A gripe espanhola, também conhecida como gripe de 1918, foi uma pandemia do vírus influenza excepcionalmente mortal. Essa gripe infectou cerca de 500 milhões de pessoas, um quarto da população mundial na época, num período de janeiro de 1918 a dezembro de 1920. 
   

É estimado um número de mortos entre 17 a 50 milhões de pessoas, com a possibilidade de se ter chegado à casa dos 100 milhões de pessoas em todo o mundo, tornando essa gripe como uma das mais mortais da história da humanidade. Historicamente a gripe espanhola foi a primeira de duas pandemias causadas pelo influenzavirus H1N1, sendo que a segunda ocorreu em 2009. Infelizmente para minha família meu pai perdeu sua mãe aos 7 anos de idade vitima dessa gripe e por toda a vida ouvi relatos familiares de como foi um período de grande comoção em nosso país e no mundo.


E cá estamos novamente às voltas com uma nova pandemia. Agora por um vírus igualmente mortal, uma variação do coronavírus. É inegável o avanço da medicina e da farmacologia nesses 100 anos que nos separam dessas duas terríveis pandemias.


Há 100 anos vivíamos um tempo com menos rapidez de disseminação pois não era tão ágil e fácil o transporte de pessoas entre as cidades, os países e os continentes. Também não se tinha uma rede de troca de informações e orientações como temos hoje via internet, tv e demais veículos de informação.


Segundo estudos, a maior parte dos surtos de gripe leva a óbito de forma desproporcional os mais jovens e os mais velhos, apresentando uma taxa de sobrevivência mais alta a indivíduos entre esses dois grupos. Entretanto, a pandemia de gripe espanhola resultou numa taxa de mortalidade bem acima do que se esperava para os adultos jovens. Foram apresentadas através de análises algumas explicações a respeito dessa alta perda de vidas e algumas dessas justificativas apontavam que o vírus foi mortal por desencadear uma reação destruidora do sistema imunológico dos adultos jovens. Mas também análises mais modernas apresentaram como justificativas, que a infecção viral é mais agressiva em cenários de desnutrição, falta de higiene e hospitais superlotados, que  acabam por não suportar a carga da demanda, entrando em colapso e assim não dando conta de  tratar todos os que necessitam de ajuda médica.


Naquela época houve em meio ao caos estabelecido, a orientação de se fazer o isolamento social das pessoas, já que um indivíduo infectado quando espirra ou tosse, mais de meio milhão de partículas virais são espalhadas para quem esta próximo. Esse isolamento demonstrou dar bons resultados na diminuição da curva de velocidade de contaminação. E é exatamente o que hoje a Organização Mundial da Saúde, OMS, juntamente com cientistas, profissionais da área de saúde, infectologistas e governos tem orientado às pessoas de todo o planeta a seguirem esse isolamento, pois é de fundamental importância para se conter a velocidade de transmissão e com isso se controlar a pandemia.


Entretanto, observamos  que uma mudança radical na rotina das pessoas pode trazer muitos problemas emocionais e psicológicos. Muitas famílias estão em isolamento com seus membros todos juntos mas inúmeras outras pessoas estão solitárias em suas casas. Seja como for, para ambos os casos, uma inquietação é natural para todo e qualquer indivíduo saudável. Assim, esse isolamento tão necessário pode trazer consequências tais como: falta de sono com dificuldade para dormir, tristeza, ansiedade, desorientação mental, irritabilidade, perda de memória, falta de concentração e até depressão.

É aí que entra a preocupação de todos nós psicólogos e profissionais da área para um cuidado com a estrutura mental de todos. Manter atividades é importante para o ser humano, e nesse momento de isolamento devemos procurar ter uma rotina saudável dentro das limitações impostas pelo confinamento.

Algumas dicas importantes devem ser observadas. Tente estabelecer uma estrutura diária tal como era antes desse isolamento. Procure manter um horário para dormir e acordar como se você estivesse vivendo num momento comum de sua vida, com seus compromissos tradicionais de estudo e trabalho.


Ao acordar mantenha sua higiene padrão tanto física como mental escovando os dentes, tomando banho, fazendo a barba, se maquiando, penteando os cabelos e trocando de roupas diariamente, evitando passar o dia de pijamas ou com roupas sujas. Isso irá manter sua autoestima elevada evitando ansiedade e depressão. 


Mantenha as refeições diárias dentro do possível nos mesmos horários. Tome seu café da manhã para quem tem esse hábito, faça seu almoço, lanche da tarde e jantar tal como anteriormente você fazia. Manter essa rotina irá diminuir a ansiedade e lhe impedir de passar o dia todo ingerindo alimentos.
 

Tente se situar no tempo e no espaço para que esse isolamento não exerça uma desorientação temporal que irá provocar uma provável alteração psíquica. É muito comum em cenários assim o indivíduo perder a noção de qual dia da semana e mês ele se encontra, de qual é a hora do dia, etc. Tente se situar no espaço temporal indo para janela e olhe para a rua, para as casas ao redor, para o movimento das pessoas em suas casas. Muitos indivíduos tem interagido pelas janelas, se comunicando de uma forma que havíamos esquecido há tempos. Se for possível caso a residência tenha algum tipo de área ou sacada, procure tomar um pouco de sol e ar fresco. Deixe o sol banhar o rosto de olhos fechados, pois essa energia é revigorante.
 
 
Procure estabelecer metas como por exemplo finalizar a leitura de um livro ou arrumar um armário que há tempos está alí esperando por isso. Ouça músicas que lhe tragam boas sensações ou que tenham letras e conteúdo positivos. Cante, dance de frente para o espelho ou com os demais, jogue jogos com os que estão passando esse confinamento com você ou on line caso esteja sozinho e assista filmes ou séries preferencialmente alegres e positivas. Não negligencie se informar mas não passe o dia todo preso a informativos sobre o que acontece, pois isso pode causar uma sobrecarga de informações preocupantes que são geradoras de stress, pânico e depressão. Procure criar climas mais lúdicos e leves que só irão contribuir para um bom equilíbrio em sua estrutura mental.


Fique alerta caso observe em você ou em alguém próximo se sintomas como tristeza, ansiedade e angústia permanecem sem alguma melhora. Caso isso seja percebido não deixe de procurar alguma ajuda profissional. Psicólogos, psicanalistas e demais profissionais da área podem lhe prestar atendimento por vídeo conferência seja por Skype ou WhatsApp. Além disso existem outros serviços de apoio solidário via telefone. O importante é não ficar sem algum apoio psicológico.


Saiba que esse período difícil teve um início e terá um fim. Cabe a todos nós colaborarmos mantendo a higiene das mãos, a etiqueta da tosse e do espirro e permanecendo firmes seguindo as orientações corretas de isolamento social, pois assim mais rapidamente venceremos essa pandemia.
 
 
Alexandre de Abreu Valle - Psicologia Clínica - CRP 04/10120
Atendimento e Acompanhamento Psicológico
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Consultório: Rua Sabino Barroso, 133/403 - Cruzeiro - Belo Horizonte - MG